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07/03/2014
TEMPO DA QUARESMA

  

TEMPO DA QUARESMA

Publicado em 5 de Março de 2014

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Simbolismo da Quaresma – Esse tempo compreende o período de penitência que se estende da quarta-feira de Cinzas até a Páscoa. Essa instituição remonta aos Apóstolos. Os mais antigos Padres nos dizem que estes instituíram um jejum solene de quarenta dias, para imitar o jejum de Moisés, o de Elias e o de Nosso Senhor.

São Jerônimo observa que o número quarenta é sempre aquele do esforço e da aflição[1]. Quando Deus quer punir o mundo, Ele abre durante quarenta dias e quarenta noites as cataratas do céu. Quando ele condena os Hebreus a vagar pelo deserto, Ele fixa em quarenta o número dos anos de seu exílio. Se Ele permite a destruição de Jerusalém, Ele a prepara para essa catástrofe por um sítio de quarenta dias. Moisés e Elias se tornam dignos de se aproximar de Deus, um sobre o Sinai, o outro no monte Horeb, por um jejum de quarenta dias.

Sobressai claramente dos escritos de São Gregório que, em seu tempo, a Quaresma começava no domingo, e não na quarta-feira precedente: ”Há, diz ele, seis semanas do primeiro domingo da Quaresma até a Páscoa, o que dá quarenta e dois dias. Como não se jejua nesses seis domingos, disso resulta que há apenas trinta e seis dias de jejum. Assim damos a Deus o dízimo do ano[2]“. É em respeito à forma do serviço divino estabelecida por esse grande Papa que a Igreja mantém o rito do tempo da Septuagésima até às Vésperas do sábado que segue as Cinzas. Não obstante, a Quaresma começa no dia de Cinzas, afim que ela possa abraçar um período de quarenta dias de jejum, com os domingos, se sabe, não contando na Igreja latina, que nunca admitiu a prática do jejum nesse dia.

Três grandes pensamentos enchem toda a liturgia da Quaresma. A Igreja, em primeiro lugar, propõe à meditação de seus filhos o drama da paixão de Jesus Cristo. Toda semana, ela nos faz seguir, passo a passo, o desenvolvimento da conspiração deicida. Em segundo lugar, a Quaresma era, para os aspirantes ao Batismo, a última preparação, e tanto o Antigo quanto o Novo Testamento forneciam as leituras capazes de ensinar aos catecúmenos a grandeza do benefício que eles iriam receber. Enfim, os penitentes públicos também se tornavam, durante a santa quarentena, o objeto do interesse materno da Igreja, e os numerosos traços de misericórdia cujos são mais especialmente repletos as Epístolas e os Evangelhos abriam o coração deles à confiança, companheira inseparável do perdão. Essas três considerações são como a chave das Epístolas e dos Evangelhos da Quaresma.

QUARTA-FEIRA DE CINZAS – O uso da cinza é antigo. Desde sempre se compreendeu a relação que existe entre esse ser pulverizado pelas chamas e o homem pecador, que o fogo da justiça também deve visitar e rebaixar ao pó. Para salvar ao menos sua alma das labaredas da vingança celeste, o pecador corria até as cinzas, e, reconhecendo sua triste fraternidade com ela, ele se sentia mais protegido da ira Daquele que resiste ao soberbo e perdoa o humilde[3].

As cinzas só foram usadas inicialmente para aqueles que tinham cometido um desses crimes que exigiam, em reparação, a penitência pública. Antes da Missa desse dia, os culpados se apresentavam à igreja, para confessar suas faltas e receber as cinzas sobre a cabeça. Cobriam-nos, ao mesmo tempo, com o cilício da penitência. O clero e o povo, prostrados, recitavam em seguida os sete Salmos penitenciais. Concluídas as orações, os penitentes eram retirados solenemente da igreja, cujas portas não se abririam mais para eles senão na segunda-feira santa.

Por humildade, cristãos piedosos se misturavam às filas dos penitentes. A Igreja, após a abolição da penitência pública, não querendo privar seus filhos dos grandes ensinamentos contidos na piedosa cerimônia das cinzas, conservou o uso de impô-las no início da Quaresma. Respondamos às suas santas intenções trazendo a essa cerimônia os sentimentos de Adão e Eva após sua falta! A sentença que incide contra eles vai cair sobre nós: “Lembra-te, ó homem, que tu és pó e ao pó retornarás“. O pó foi o berço de todos nós, grandes e pequenos. Nosso nome traz sua marca indelével: homem quer dizer terra. Encontramos o traço dele até em nosso sangue, cuja análise apresentou à ciência moderna um elemento terroso. Extraídos do pó, logo voltaremos para ele, e, um dia, do nosso despojo mortal restará apenas um punhado de cinzas. Ó riquezas! Ó prazeres! Ó nobreza! Ó beleza! Que sereis de vós? Um punhado de pó! Memento homo! Possamos-nós jamais nos esquecer disso!

Contudo, ao lado da tristeza, a Igreja colocou a esperança. O sinal da cruz feito sobre nossa fronte com a cinza nos recorda que a morte foi vencida pelo divino Crucificado, e que, graças ao Calvário, o pó se tornou, para o homem resgatado, o berço de uma vida gloriosa e imortal.

Impunha-se outrora as cinzas sobre a cabeça. Esse uso só foi mantido para o clero. Os fiéis as recebem sobre a fronte.

O celebrante recebe as cinzas de pé. Essa é a postura que convém ao representante de Jesus Cristo nas cerimônias santas. Porém, quando ele as ministra sobre si mesmo, ele se coloca de joelhos. Ele as recebe então, de algum modo, de Jesus Cristo, diante de quem todo joelho deve se dobrar[4].

DOMINGOS DA QUARESMA – Os jovens que se entregavam às licenças do carnavam vinham, no primeiro domingo da Quaresma, se apresentar à igreja, com uma tocha na mão, para fazer uma reparação pública por seus excessos. A reparação caiu em desuso, mas o uso das chamas sobreviveu, e o primeiro domingo da Quaresma continuou a ser chamado de domingo das tochas.

O Evangelho do segundo domingo, o mesmo que o da véspera, dia de ordenação, contém a narração da Transfiguração. O Tabor representa, segundo a interpretação dos Padres, a santa montanha onde Jesus Cristo conduz todos os dias seus ministros, para aí se transfigurar nos rebaixamentos de seu amor. Para não privar os fiéis desses ensinamentos, de onde sobressaem tão vivamente a grandeza do sacerdote, a Igreja mandou que se repetisse nesse dia o Evangelho do sábado.

Na liturgia do quarto domingo tudo fala de alegria: os cantos sagrados, a voz do órgão e, sobretudo, a bênção da Rosa de ouro, que ocorre nesse dia em Roma. É na explicação dessa cerimônia que nos deteremos, porque ela nos dirá a causa da alegria da Igreja. Iremos apenas traduzir o cardeal Pedro de Cápua:

    “Lemos, diz ele, que o Senhor Jesus, com a aproximação de sua paixão, querendo fortificar os discípulos contra o escândalo das humilhações, lhes predisse frequentemente a glória de sua ressurreição, e até demonstrou o esplendor dela para três deles, em sua transfiguração luminosa sobre o Tabor.

    É para caminhar sobre esses traços do Mestre divino que, no quarto domingo da Quaresma, ou seja, aquele que precede imediatamente o domingo da Paixão, o qual abre a série dos mistérios dolorosos do Salvador, o Soberano Pontífice, para adocicar as tristezas dos dias que vão seguir, carregando uma rosa de ouro na mão, anuncia aos fiéis a glória da ressurreição.

    Essa, com efeito, é representada pela flor. Nosso Senhor disse que “sua carne floresceria como ela[5]“. Entre todas as belezas passageiras, nenhuma é igual àquela da flor. Temos o testemunho do Salvador, que assegura “que Salomão, em toda sua glória, jamais se vestiu como elas[6]“.

    Ora, entre as flores, a rosa é a mais bela. Portanto, é com razão que ela foi escolhida para representar essa glória “que o olho não viu, que o ouvido não ouviu, que o coração não pode compreender[7]“.

    Por que se unge com almíscar e bálsamo uma rosa de ouro? O ouro, o mais precioso dos metais, é digno de representar os esplendores da glória de Jesus Cristo em sua ressurreição.

    O bálsamo preserva os corpos da corrupção, e exprime aqui a imortalidade do Salvador ressuscitado.

    O almíscar, entre as ervas aromáticas, é o mais odorífico. Então ele é um sinal do renome de Cristo, cuja ressurreição se espalhou por toda parte, como um bom odor, pelo ministério dos Apóstolos[8]“.

Essa rosa é carregada por um clérigo que caminha diante de Sua Santidade, depois ela é depositada no meio do altar, sobre um rico tecido de seda bordado de ouro. O Soberano Pontífice a envia comumente para algum príncipe ou outro importante personagem, em sinal de honra ou em testemunho de reconhecimento por algum serviço prestado à Igreja.

A Epístola desse domingo se dirigia mais especialmente àqueles que se preparavam para o Batismo. Agar e Sara representam os dois Testamentos. Catecúmenos, rejubilem-se, vossa mãe é a Jerusalém celeste, é Sara, a mulher livre. Vossas correntes logo vão cair. Logo sereis cidadãos do céu.

O Evangelho da multiplicação dos pães sempre foi visto como uma imagem da Eucaristia. É por isso que o recitam nesse dia.

Na quarta-feira dessa quarta semana, era consumada, após os exames necessários, a admissão dos catecúmenos ao Batismo. Por esse motivo, esse dia era chamado de féria dos grandes escrutínios. Com uma simples leitura, vê-se que a primeira Epístola se dirigia aos catecúmenos, e a segunda, aos penitentes. Quanto ao Evangelho, eles nos apresenta a cura do cego de nascença, surpreendente representação do homem iluminado pela fé.

DURAND, Abbé. A. Le culte catholique dans ses cérémonies et ses symboles. Tradução de Robson Carvalho, Paris, Jóuby et Roger, 1868, p.551-557.

[1] Ez XXIX.

[2] Hom. XVI . In S. Math.

[3] Dom Guéranger, Année liturgique.

[4] Gav., P. IV, tit. 6.

[5] Salmo XXVII, 7.

[6] Mt VI, 29.

[7] I Co II, 9.

[8] Spicil. Solesm., t. III, p.495.

 

Fonte:http://catolicosribeiraopreto.wordpress.com/




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