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21/04/2017
12 conselhos do abade Santo Antão para uma vida virtuosa

12 conselhos do abade Santo Antão para uma vida virtuosa

20/04/2017

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Imagem "A tentação de Santo Antão" (det.) | Pieter Coecke Van Aelst, o Velho

1. Deve-se a um equívoco a opinião generalizada de que os homens são por natureza criaturas dotadas de razão. Contrariando, pois, uma tal opinião, podemos afirmar convictamente: carecem de razão aqueles cujo saber não vai além do proporcionado pelo manuseio dos textos dos sábios antigos. Na verdade, um saber que nisso se esgota de nenhum modo mostra estar animado por uma verdadeira racionalidade. Racionais são, esses sim, aqueles que são dotados de uma alma racional e, consequentemente, capazes de discernir entre o bem e o mal, extraindo daí as consequências necessárias. Homens desses fogem do mal e consagram-se ao estudo do bem e do útil, impregnando com isso a vida que vivem. E fazem-no rendendo muitas graças a Deus. Por conseguinte, deles e só deles se deve dizer que são verdadeiramente dotados de razão.

2. O homem inequivocamente dotado de razão persegue apenas uma única coisa: obedecer e agradar ao Deus do universo. Alimentando esse único propósito, disciplina a sua alma, e em qualquer circunstância da sua vida dá graças a Deus pela realidade e profundidade da providência com que dirige todas as coisas. Seria absurdo, com efeito, agradecer a saúde do corpo aos médicos que nos tratam com remédios amargos e desagradáveis, e recusar dar graças a Deus pelas coisas que nos parecem penosas, ignorando que tudo acontece como deve acontecer, e para nosso bem, de acordo com a sua providência. Porque o conhecimento de Deus e a fé nele são a salvação e a perfeição da alma.

3. O autodomínio, a resignação, a temperança, a firmeza, a perseverança, bem como outros semelhantes poderes, grandes e santos, tudo isso de Deus recebemos para resistir às dificuldades que nos sobrevêm. Se cultivarmos esses poderes e deles dispusermos, não consideraremos ser difícil, doloroso e intolerável o que possa abater-se sobre nós, compreendendo que todo o infortúnio é humano e pode ser dominado pelas virtudes que nos habitam. Os insensatos, esses, não têm isso em conta, pois não compreendem que todas as coisas acontecem, tal como devem acontecer, para nosso bem, para que assim as virtudes brilhem e sejamos coroados por Deus.

4. Não percas de vista que a aquisição de coisas materiais e o uso opulento que delas podemos fazer não passam de uma aparência ilusória e passageira, e que um modo virtuoso de vida, de acordo com a vontade de Deus, ultrapassa toda a riqueza material. E se refletires seriamente nisso, e constantemente o guardares na tua mente, deixar-te-ás de queixas e de lamentos, bem como de censuras ao próximo. Em tudo darás graças a Deus, vendo que aqueles que se apoiam na reputação e nas riquezas são piores do que tu. Com efeito, o desejo, a vanglória, a ignorância, constituem tudo junto a pior paixão da alma.

5. É examinando-se a si mesmo que o homem dotado de razão experimenta o que lhe convém e lhe é útil, o que é apropriado à alma e lhe é vantajoso, e também o que lhe é estranho e prejudicial. Deste modo evita aquilo que, sendo não só estranho mas também nocivo à alma, o separa da imortalidade.

6. Quanto mais frugal é a vida de um homem tanto mais feliz ele é, pois não vive perturbado por um exército de cuidados: escravos, trabalhadores, rebanhos. Com efeito, quando vivemos dependentes de tais coisas e assediados pelos problemas delas decorrentes, estamos a culpar Deus. Ao vivermos uma tal cupidez estamos a cultivar a morte e a permanecer como errantes nas trevas de uma vida pecaminosa, incapazes de reconhecermos o nosso verdadeiro eu.

7. Não se deve dizer que é impossível ao homem atingir uma vida virtuosa, reconhecendo embora não ser isso fácil. Como fácil não é àqueles que a atingem nela perseverarem. Participam na vida virtuosa aqueles que, entre os homens, se consagram à piedade, e cuja mente é objeto do amor de Deus. Com efeito, a mente do homem comum está voltada para o mundo, vacila, nutre tanto pensamentos bons como maus e é, por natureza, instável e atraída pelas coisas materiais. Mas em virtude de ser objeto do amor de Deus, rejeita o mal que brota espontaneamente como resultado da negligência humana.

8. Os homens incultos e ignorantes consideram a instrução uma coisa não só indesejável como ridícula, e rejeitam-na, pois ela evidenciaria a sua tacanhez e comprometeria o seu desejo de que as outras pessoas sejam semelhantes a eles mesmos. Igualmente, os homens depravados nos seus hábitos e estilos de vida esforçam-se para provar que os outros são piores do que eles, e procuram assim apresentar-se como irrepreensíveis quando comparados com todos os pecadores que os rodeiam. A alma, entregue à frouxidão, entra no desvario e perde-se na maldade, pois é habitada pelo deboche, o orgulho, a avidez, a cólera, a impetuosidade, a raiva, o homicídio, a lamentação, a inveja, a cupidez, a rapacidade, a dor, a mentira, a concupiscência, a preguiça, a tristeza, a cobardia, a morbidez, o ódio, a censura, a fraqueza, o erro, a ignorância, a fraude, o esquecimento de Deus. É por estes males, e por outros do mesmo jaez, que a sofredora alma, separada de Deus, é castigada.

9. Aqueles que pretendem viver uma vida virtuosa e santa não devem incorrer em condenação, pretendendo ser detentores de uma piedade que não possuem. Mas, à semelhança dos pintores e escultores, devem manifestar a sua virtude e santidade através das suas obras, como amados por Deus, e rejeitar como armadilhas todos os prazeres maus.

10. Aos olhos dos que são dotados de um discernimento espiritual sadio, ser rico e de boas famílias, mas ter uma alma inculta e levar uma vida desprovida de toda a virtude, é ser infeliz; ao contrário, é feliz aquele a quem a sorte fez pobre e escravo, mas cuja vida é marcada pela cultura e pela virtude. Semelhantes a estrangeiros que se perdem nos caminhos são aqueles que não procuram a vida virtuosa: seduzidos e enganados pela cobiça, deixam-se levar pelos caminhos tortuosos da perdição.

11. Àqueles que são dotados da capacidade de cativar as naturezas incultas, ao ponto de as levar a amar a instrução e a cultura – a esses devemos chamar criadores de homens. Analogamente, o mesmo devemos dizer daqueles que encaminham os errantes, inspirando-lhes uma conduta virtuosa agradável a Deus, pois também esses são criadores de homens. Com efeito, a doçura e o autodomínio são, nas almas, manifestações de felicidade e esperança.

12. É preciso que os homens pautem, sem tergiversar, o seu comportamento e conduta segundo os ditames de uma sã disciplina. Uma vez esse caminho encontrado torna-se fácil conhecer as coisas de Deus. De facto, quando um homem venera a Deus com todo o seu coração e toda a sua fé, recebe da providência divina o poder de dominar a cólera e a cobiça. Ora, tanto uma como a outra são a fonte de todos os males.

Santo Antão, Abade (251-355), nascido em 251, aos 20 anos dedica-se a uma vida de ascese, primeiro numa aldeia, e depois numa gruta perto do rio Nilo, em seguida em pleno deserto, junto de umas ruínas abandonadas. Vai então constituir um grupo de mosteiros de que ele se torna o pai ou abade. Mais tarde, Antão ruma em direção ao Mar Vermelho, criando um mosteiro que conservará particularmente a sua memória e onde passará o resto da sua vida. Morreu em 355.

Santo Antão
In "Pequena Filocalia", ed. Paulinas
Publicado em 20.04.2017

Fonte:http://snpcultura.org/doze_conselhos_do_abade_santo_antao_para_uma_vida_virtuosa.html




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