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16/09/2017
O TRIBUTO DA MORTE…

O TRIBUTO DA MORTE…

16/09/2017

Procedamos à leitura do seguinte excerto da Primeira Epístola de São Paulo aos Tessalonicenses:

https://promariana.files.wordpress.com/2017/09/morte.jpg

Alberto Carlos Rosa Ferreira das Neves Cabral

«Não queremos, irmãos, que ignoreis coisa alguma a respeito dos mortos, para não vos entristecerdes, como os outros que não têm esperança.

Se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também devemos crer que Deus levará, por Jesus, e com Jesus, os que morrerem.

Eis o que vos declaramos, conforme a Palavra do Senhor: Por ocasião da vinda do Senhor, nós, os que estivermos vivos, não precederemos os mortos. Quando for dado o sinal, à voz do Arcanjo e ao som da trombeta de Deus, o próprio Senhor descerá do Céu, e os que morreram em Cristo ressurgirão primeiro. Depois, nós os vivos, os que ficarmos, ARREBATADOS JUNTAMENTE COM ELES SOBRE AS NUVENS, IREMOS AO ENCONTRO DO SENHOR NOS ARES, E ASSIM ESTAREMOS PARA SEMPRE COM O SENHOR. CONSOLAI-VOS PORTANTO UNS AOS OUTROS COM ESTAS PALAVRAS.» (ITess 4, 13-18)

Escutemos o Papa Pio XI, num trecho da sua encíclica “Caritate Christi”, promulgada em 3 de Maio de 1932:

«E que objecto há mais digno das nossas súplicas e que melhor corresponda À PESSOA ADORÁVEL DAQUELE QUE É O ÚNICO MEDIADOR ENTRE DEUS E OS HOMENS, O HOMEM CRISTO JESUS, DO QUE IMPLORAR A CONSERVAÇÃO, NA TERRA, DA FÉ NO ÚNICO DEUS VIVO E VERDADEIRO? Tal súplica leva já em si parte do seu deferimento, porque se alguém ora, une-se a Deus, e por assim dizer, mantém já na Terra a ideia de Deus. A pessoa que ora, com a sua própria posição humilde, professa ante o mundo a sua Fé no Criador e Senhor de todas as coisas; e quando se une com outros em oração comum, só com isso já reconhece que não só o indivíduo, mas também a sociedade humana tem um absoluto e supremo Senhor acima de si.

Que espectáculo não é, para o Céu e para a Terra, a Igreja que ora? De há séculos, ininterruptamente, repete-se na Terra, de dia e de noite, a Divina Salmodia dos cantos inspirados; não há hora do dia que não seja santificada pela sua Liturgia especial. Não há período algum, longo ou curto, da vida, que não tenha um lugar na acção de Graças, no louvor, na impetração, e na reparação da prece comum do Corpo Místico de Cristo, que é a Igreja. Desta forma, a oração assegura a presença de Deus entre os homens, como prometeu o Divino Redentor: “Onde dois ou três estiveram reunidos em Meu Nome, EU ESTAREI ENTRE ELES”(Mt 18,20).

Implore-se a Paz para todos os homens, mas especialmente para aqueles que na sociedade humana têm a grave responsabilidade do governo. Como poderiam eles dar a Paz aos seus povos se eles mesmos a não possuírem?

E é precisamente a oração que, segundo o Apóstolo, deve trazer o Dom da Paz; a oração que se dirige ao Pai Celeste, que é Pai de todos os homens: A oração, que é a expressão comum dos sentimentos de família, dessa grande família, que se estende além dos confins de todos os países, de todos os continentes.»        

No Paraíso Terrestre, a árvore da vida, mediante seus frutos, assegurava a imortalidade daqueles que, permanecendo na inocência, o habitassem. Não tendo havido pecado original, se um dos descendentes de Adão e Eva pecasse, morreria, mas o seu pecado não se teria transmitido aos seus descendentes, pois sòmente o casal original fora constituído Cabeça orgânica do Género Humano.

A morte e o sofrimento são privação se ser, consequentemente, estavam ausentes do Paraíso Terrestre, não por si mesmos, mas estritamente em função dos Bens Sobrenaturais. Num mundo todo ele na Graça de Deus, com o grau de santidade a desenvolver-se de geração em geração, é óbvio que esse meio social deveria ser impassível e imortal.

São Tomás de Aquino, nos seus comentários ao Evangelho de São João, explica claramente que este Apóstolo foi o único que não sofreu martírio cruento. Efectivamente, condenado à grelha, por volta do ano 96, dela saiu ileso; foi exilado para a ilha de Patmos, onde morreu, naturalmente, pelo ano 104, portanto centenário ou quase. São Tomás atribui a morte incruenta deste Apóstolo à sua inocência, à sua virgindade.

Ninguém imagina Nossa Senhora disciplinando-se com correntes, ou usando cilício, precisamente, devido à sua eminentíssima santidade, não tinha necessidade deste género de penitências para se purificar, ou para crescer ainda mais na Graça e na Verdade. Todavia todos imaginamos Nossa Senhora jejuando, pois tal já lhe é perfeitamente compatível, constituindo mesmo uma exigência da vida Sobrenatural da mais santa de todas as criaturas.

É conhecido como São Pio X nunca usou disciplinas e cilícios, tal não apresenta desprimor para a sua santidade; muito pelo contrário – É PROVA DA SUA MAIOR SANTIDADE.

Uma vez contraído o pecado original, mesmo com a promessa do Redentor, de Cuja Graça já beneficiaram Adão e Eva para a sua penitência, a condição do Género Humano passou a ser, essencialmente, mortal, passível, e belicista.

Já se tem utilizado a passagem da Carta aos Tessalonicenses, acima transcrita, para provar a não absoluta universalidade da condição mortal da Humanidade. Neste caso, os que estivessem vivos no tempo da Parúsia final, não morreriam, os seus corpos seriam instantaneamente glorificados e logo arrebatados com Nosso Senhor Jesus Cristo para o Céu.

São Tomás de Aquino, nos seus comentários às Epístolas de São Paulo, sustenta claramente a universalidade absoluta da condição mortal humana. Assinala São Tomás, que o próprio São Paulo, noutro passo, afirma que: “Todos morreremos!” (ICor 15,51). Aqui é necessário observar que Santo Tomás invoca a autoridade de São Jerónimo, que nalgumas das suas cartas assinala discrepâncias nos Sagrados Códices: Uns registariam -“Todos ressuscitaremos”, ou “Todos dormiremos”;outros Códices consignariam – “Nem todos ressuscitaremos”. São Tomás, por razões teológicas, afirma que o tributo da morte é absolutamente universal, e que os viventes do tempo da Parúsia, para se conformarem plenamente ao seu Redentor, morrerão e de imediato serão transformados, isto é, glorificados, porque São Paulo nestas passagens só considera os eleitos. Dormir, neste particular, significa falecer com a certa esperança na ressurreição.

Alguns poderiam ainda colocar a hipótese, na qual sinceramente não creio, de que os viventes na época da Parúsia, mártires de uma forma ou outra e vítimas do anti-Cristo, e derradeiros representantes da Sacrossanta Fé Católica sobre a Terra, seriam, por especial privilégio, preservados da morte – assim como o teriam sido Adão e Eva – entrando directamente na vida Eterna. Todavia, mesmo Nossa Senhora, é mais provável que tenha morrido, ainda que, teòricamente, por si mesma, criatura sem o pecado original, fosse imortal. Mas num mundo pavorosamente ferido, moral e fìsicamente, pelo pecado original, Nossa Senhora teria falecido de causas extrínsecas inerentes a esse mesmo mundo. Mas uma morte absolutamente digna e impassível, como convém à mais santa e pura das criaturas.

A morte, em si mesma, é algo naturalmente decorrente da condição material dos seres vivos. Numa ordem ontológica puramente natural, que aliás jamais existiu, todos os homens seriam mortais. O Dom Preternatural da imortalidade, neste mundo, só pode constituir privilégio excepcional, e como já se referiu, sempre em ordem aos Bens Sobrenaturais.

A inferioridade essencial dos homens em relação aos Anjos radica-se nesta mortalidade corporal, que como se disse é uma privação de ser. Porque quanto menos elevada é a hierarquia dos entes mais vazios de ser neles encontramos, mais mutáveis são, mais compostos, sobretudo porque são materiais.

Mas a Sabedoria, Omnipotência e Bondade Divina pode de alguma forma suprir esta carência de ser, não só pelo já referido Dom Preternatural da imortalidade, como sobretudo pela glorificação Eterna de corpos e almas. O mundo glorioso supera totalmente a condição temporal, dispersiva e sucessiva, porque é absolutamente incorruptível, imutável e simples, com total domínio do que poderíamos denominar espaço. Nesse mundo glorificado não existem leis contingentes da natureza, nomeadamente a Lei da entropia, pela qual as transformações energéticas sofrem progressiva degradação na sua eficácia. Tal sucederá, porque tal mundo, EMBORA FORMAL E REALMENTE DISTINTO DE DEUS, d’Ele receberá, ontològicamente, com abundância tal, que não é conceituável com as nossas categorias humanas e terrenas. Porque o mundo glorificado estará, inefàvelmente, mais perto de Deus do que o nosso, e de tal forma, que a Presença de Nosso Senhor Jesus Cristo nos eleitos excederá inconcebìvelmente a riqueza da Presença Eucarística, a Qual já é, em Si mesma, infinitamente sublime.

Nosso Senhor Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro e perfeitíssimo homem, estremeceu diante da morte, tanto que até apareceu um Anjo para confortá-l’O. Isso prova que é verdadeiro homem, pois é próprio da humana natureza temer a morte, embora, com o auxílio de Deus, deva superar essa natural repugnância e aflição, quando a morte é necessária por motivos de ordem superior. Mais ainda: A Natureza Humana de Nosso Senhor, mais perfeita do que qualquer outra natureza, possuía também uma sensibilidade proporcionada com essa perfeição. Neste quadro conceptual se pode e deve declarar que Nosso Senhor sofreu física e moralmente mais que qualquer outro homem, mas com esse sofrimento – além de merecer para nós os Bens Celestes, com satisfação Vicária de Condigno – mereceu para Si próprio uma Glória e uma exaltação corporal e externa infinitamente maior do que a de qualquer homem. Porque Nosso Senhor, intrìnsecamente, não auferiu mérito moral acidental mediante a Sua agonia e morte; muito pelo contrário, foi o Seu Infinito mérito essencial, substancial e hipostático que qualificou, absolutamente, Infinitamente, essa agonia e essa morte, bem como toda a Sua vida, oculta e pública.

Abracemos a nossa morte rezando o acto de aceitação Sobrenatural da morte, com todos os seus sofrimentos físicos e morais, de São Pio X. Não olvidemos que a nossa morte deve constituir, sobrenaturalmente, a nossa suprema configuração com Aquele que nos criou e redimiu.

LOUVADO SEJA NOSSO SENHOR JESUS CRISTO

Lisboa, 28 de Agosto de 2017

Alberto Carlos Rosa Ferreira das Neves Cabral

Fonte: https://promariana.wordpress.com/2017/09/16/o-tributo-da-morte/




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