Sinais do Reino


Artigos
  • Voltar






22/11/2013
A ilusão das riquezas


A ilusão das riquezas

22 de novembro de 2013

5143_5www.TheWallpapers.org_1-1024x750

Fr. Elionaldo Ecione, O de M/ Reparatoris

Vivemos numa sociedade consumista, seus mecanismos econômicos, políticos, midiáticos e sociais projetam em nossas consciências uma forte ilusão pelas riquezas, haja vista, o reconhecimento das pessoas que é certificado pelas suas posses e bens e não pela sua dignidade.

Essa lógica invertida pelo capital faz com que nos preocupemos sempre em ter, possuir, adquirir e acumular. Tudo isso acaba prejudicando nossa condição antropológica, isto é, a nossa humanidade. Essa visão pragmática e utilitarista nos empobrece enquanto pessoas, pois ela rejeita a igualdade, a justiça, a solidariedade, a fraternidade e a paz, ou seja, aqueles valores que nos caracterizam como pessoas humanas.

O imperativo social passa a ser o de “quem pode mais”, de “quem tem mais poder”, “mais influência”, “mais domínio”, enfim, é o modelo da injustiça e da violência. Essa conscientização invertida promovida pelos meios públicos já citados tem formado e influenciado o pensamento de muita gente, inclusive de muitas pessoas devotas e ditas de fé. Todavia, a lógica do Reino de Deus e do evangelho anunciado e testemunhado por Jesus vai na contramão desse sistema.

Jesus não ignora a condição de cidadãos dos seus discípulos, pelo contrário, até a promove: Dai pois a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus (Mt 22,21). Trata-se na verdade de descobrir qual posição Jesus ocupa em nossas vidas, ou seja, qual é o nosso tesouro? Pois onde está o nosso tesouro aí estará também o nosso coração (Mt 6,21). Trata-se de escolher pelo Reino de Deus e sua justiça em prejuízo do acumulo, do enriquecimento, da valorização dos bens e de tudo aquilo que se opõem ao Reino e sua ética da partilha, da justiça e da solidariedade. Mesmo porque não podeis servir a Deus e ao dinheiro (Mt 6,24).

escravo do dinheiro - amor ao dinheiro - raiz de todos os males - ilusão das riquezas - ganância - riquezas.

O evangelho é muito claro com relação ao tema da riqueza, aliás, toda a literatura bíblica e, sobretudo sapiencial nos fornece ensinamentos bem concretos e claros a esse respeito. O salmo 48 de uma forma bem contundente nos adverte sobre a ilusão promovida pelas riquezas e o fim daqueles que depositam sua confiança nela. Ninguém se livra de sua morte por dinheiro nem a Deus pode pagar o seu resgate. A isenção da própria morte não tem preço; não há riqueza que a possa adquirir, nem dar ao homem uma vida sem limites e garantir-lhe uma existência imortal (Sl 48, 8-10).

Em nossa sociedade consumista e pós-moderna o absoluto tem ganhado valor relativo, porque o relativo tem sido absolutizado, isto é, a subjetividade de cada sujeito é o que importa, as suas vontades, os seus desejos, os seus prazeres etc. Na verdade essa tendência de nossos tempos revela uma riqueza ainda mais prejudicial: a riqueza pessoal. Essa por sua vez, é o apego ao próprio eu, a si mesmo, as suas próprias vontades e prazeres, e em nome delas facilmente o outro é descartado, excluído e eliminado. É o primado “eu” o egocentrismo absoluto, que se revela como uma riqueza ainda mais nociva do que a riqueza material, pois tem como centro a própria pessoa.

Essa riqueza pessoal associada às riquezas materiais são completamente destrutivas tanto para o sujeito quanto para uma sociedade inteira. Basta observar a história e perceber o comportamento daqueles que promoveram as guerras e fomentaram as ideologias.

Essa riqueza pessoal no sentido negativo equivale ao orgulho e está associada ao egoísmo. Ainda na literatura bíblica o orgulhoso é visto como o ímpio do qual Deus mesmo se afasta e não tolera sua presença (cf. Mc 7, 21-23; Mt 23,12; Tg 4,6; Pr 16,18; 1 Pd 5,5-6).

O salmo 48, 19 expressa muito bem o sentimento do homem que vive apegado as suas riquezas pessoais e materiais: Felicitava-se a si mesmo enquanto vivo: “Todos me aplaudem, tudo bem, isto que é vida!” Mas no versículo seguinte apresenta seu triste desfecho: Mas vai-se ele para junto de seus pais, que nunca mais e nunca mais verão a luz!

Quem vive apegado aos seus próprios bens vive nas trevas do egoísmo e da sua miséria pessoal. No evangelho de Lucas (cf. 16, 19-31), Jesus nos diz que existia um grande abismo entre o rico avarento e o pobre Lázaro. Abismo esse que se reflete de maneira definitiva na escatologia, isto é, no fim de tudo, onde ele não pode passar de um lugar ao outro devido à justiça divina que é plenamente estabelecida (cf. Lc 16, 19-31). Derrubou do trono os poderosos e elevou os humildes. Encheu de bens os famintos (Lc 1,52-53).

escravo-do-dinheiro

escravo do dinheiro

O grande exemplo de humildade e pobreza nos é dado por Cristo no seu nascimento, ele se fez homem despojando-se de suas próprias riquezas para nos enriquecer. Ele não se apegou a sua condição divina, mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens (cf. Fl 2,7).

A condição humana é uma condição kénotica, isto é, esvaziada, sujeita ao sofrimento e a morte, mas profundamente enriquecida com a visita do Filho de Deus e, por isso, nossa maior riqueza é Cristo, o qual devemos nos apegar confiantemente tendo-o como centro de nossa existência.

 

Fonte:http://reparatoris.com




Artigo Visto: 1661

 




Total Visitas Únicas: 6.306.237
Visitas Únicas Hoje: 491
Usuários Online: 109