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10/08/2018
A LUZ SOBRENATURAL DE DEUS E AS TREVAS HEDIONDAS DO MUNDO

A LUZ SOBRENATURAL DE DEUS E AS TREVAS HEDIONDAS DO MUNDO

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Escutemos o Papa Leão XIII, num trecho da sua encíclica “Auspicato Concessum”, promulgada em 17 de Setembro de 1882:

«No século décimo segundo, as virtudes cristãs escasseavam grandemente, sendo demasiados os que, apegados perdidamente às coisas humanas, ou enlouqueciam pela avidez desmedida de honras e riquezas, ou se desgastavam no luxo e na lascívia. A prepotência de poucos manifestava-se especialmente na opressão do povo mísero e desprezado, e não eram isentos de tais culpas nem aqueles que por ofício deviam ser o exemplo e os mestres dos outros. E enquanto a Caridade diminuía, prevaleciam paixões perniciosas, inveja, rivalidade, ódios, com tanta manifestação de hostilidade, que ao menor pretexto as cidades limítrofes desafiavam-se em guerras desastrosas, e os cidadãos de uma mesma cidade lutavam bàrbaramente uns contra os outros.

Este era o século em que apareceu Francisco. Contudo, ele, com admirável simplicidade e igual constância, quis, com a palavra e o exemplo, OFERECER AOS OLHARES DO MUNDO CORROMPIDO A IMAGEM PURA DA PERFEIÇÃO CRISTÃ.

Com efeito, como o Padre Domingos de Gusmão, naqueles mesmos tempos, defendia corajosamente a integridade da Doutrina Católica, e com a luz da Revelação dissipava os falsos dogmas da heresia, assim Francisco, secundando os impulsos da Graça que o guiava a grandes empreendimentos, conseguiu despertar nos cristãos o amor da virtude, e chamar de volta à imitação de Cristo homens transviados há muito tempo. Certamente não foi por acaso que ressoaram ao ouvido do jovem aquelas palavras do Evangelho: “Não leveis ouro, nem prata, nem cobre, nos vossos cintos, nem alforge para o caminho, nem duas túnicas, nem sandálias, nem cajados”(Mt 10, 9-10). E ainda:”Se queres ser perfeito, vai, vende os teus bens e dá o dinheiro aos pobres… depois vem e segue-Me”(Mt 19,21). Recebendo essas palavras como ditas particularmente para ele, Francisco vai, despoja-se de tudo, e até da roupa que usava, casa irrevogàvelmente com a pobreza e com aquelas grandes máximas da perfeição evangélica, que ele já havia acolhido com grande generosidade de coração, e põe os fundamentos da Regra que dará à sua ordem. E daí para a frente, entre a procura de prazeres e molezas do seu tempo, ele vai, descuidado e miserável na sua pessoa, mendigando o pão de porta em porta, e o que a nós parece mais insuportável, não sòmente suporta o escárnio dos outros, mas o acolhe com admirável alegria. A loucura da Cruz de Cristo tinha-se tornado para ele a mais alta Sabedoria, e tendo entendido o seu Mistério profundo e augusto, viu e julgou não poder pôr alhures a sua realização.

Juntamente com o amor à Cruz, entrou-lhe no coração a mais viva e ardente Caridade, que o levou a querer difundir o Reino de Jesus Cristo sobre a Terra, e a expor-se também, por esse mesmo motivo, ao perigo eminente de vida. Ele estendeu essa Caridade a todos os homens, mas os seus preferidos eram os mais miseráveis e esquálidos, de modo tal que mostrava deleitar-se, sobretudo, naqueles deserdados que o mundo, soberbo, olhava arrepiado. Ao agir assim, foi grandemente benemérito da fraternidade entre os homens, restabelecida e aperfeiçoada por Nosso Senhor Jesus Cristo, O Qual reuniu o Género Humano numa só família, constituída sob o poder de um só Deus e Pai de todos.

Rico de tantas virtudes e especialmente de tão grande austeridade de vida, este homem inocentíssimo começou-se a formar a si mesmo, no que lhe foi possível, sobre o modelo de Nosso Senhor Jesus Cristo. Mas um outro sinal da particular providência de Deus para com Francisco, o podemos ver nos aspectos exteriores de semelhança visível que ele teve com o Redentor Divino. (…)

Em meio a tão grandes males, vós bem entendeis, veneráveis irmãos, como se possa repor, razoàvelmente, não pequena esperança de alívio nas instituições franciscanas, DESDE QUE RECONDUZIDAS AO VIGOR PRIMITIVO. Com seu reflorescimento também refloresceria, fàcilmente, a Fé, a Piedade, e toda a virtude cristã, seria posto de lado o desejo desmedido dos bens da Terra, e não se suportaria com aborrecimernto a contenção dos desejos por meio da mortificação evangélica, considerada como o maior e mais incómodo dos pesos. Unidos por concórdia fraterna os homens amar-se-iam mùtuamente, respeitando nos pobres e aflitos, como é seu dever, a Imagem de Nosso Senhor Jesus Cristo.»

Há infelizmente quem pense que é próprio do mundo ser como é; contudo, nunca pode constituir perfeição de uma realidade o ela ser má. Certamente que, no Seu Eterno Conselho, Deus sabia que o mundo seria moralmente mau, mas que através dessa maldade, da sua contradição e do seu desconcerto, seria haurida, superabundantemente, a glorificação positiva que Deus Nosso Senhor receberia dos bons. Todavia, são os próprios mundanos que blasfemam afirmando que: É BOM QUE O MUNDO SEJA MAU, E QUEM QUISER QUE VÁ PARA O CONVENTO. É próprio de Deus saber tirar o Bem do mal, porque Ele só quer positivamente o Bem; quanto ao mal, permite-o, sempre em função de um Bem maior, e este Bem só pode ser Sobrenatural. A provação ascética e mística dos poucos bons justifica a maldade moral de muitos, mas são estes que, em concreto, governam o mundo, imprimindo-lhe o seu rumo carnal fundamental, mas não olvidando, que tudo isto sucede sob a Sabedoria Providencial de Deus Uno e Trino, O Qual só pode prosseguir o Bem teleológico da Sua Glória extrínseca.

Toda a História Universal, bem como a História da Igreja, nos ensina que há nos varões apenas três paixões vitalmente constitutivas, na sua demencial brutalidade desordenada e avassaladora: A paixão da riqueza, a paixão do poder e a paixão sexual. Toda a História humana gravita à volta destas três realidades.

É nas coisas mais simples, naquelas que o mundo odiosamente despreza, que são descortinados os caminhos de Deus, os sinais infalíveis da Santa Providência, os maravilhosos indicadores da Revelação, os escaninhos da Bondade Sobrenatural das criaturas. Mas só e ùnicamente almas em estado de Graça podem contemplar isso.

Este desgraçado mundo alguma vez realizará que haja doentes mentais profundos nos quais se possa ler, verdadeiramente, o Lume da vida Sobrenatural, a Luz infinita de Deus que neles reside desde o santo Baptismo. Tal sucede em primeiro lugar porque a Luz natural dos primeiros princípios do conhecimento e da moral de forma alguma é atingida pela doença mental, esta sòmente corrompe, em maior ou menor grau, A APLICAÇÃO DESSES PRIMEIROS PRINCÍPIOS ÀS VICISSITUDES DO QUOTIDIANO, E DE UMA FORMA MUITO ESPECIAL OS DA INTELIGÊNCIA. A alma, enquanto tal, intrìnsecamente, permanece intacta. Por sua vez os Bens Sobrenaturais da Graça Santificante, das Virtudes Teologais e Morais, e dos Dons do Espírito Santo, NÃO DEPENDEM DAS PERFEIÇÕES NATURAIS E EXTRÍNSECAS DA INTELIGÊNCIA, CONSIDERADA AQUI NA SUA RELAÇÃO COM A ESTRUTURA CORPORAL. SÃO REALIDADES TRANSCENDENTALMENTE INCOMENSURÁVEIS. Consequentemente, haverá doentes mentais profundos, totalmente desprezados pelo mundo e pela medicina, que são autênticos santos.

No Calvário de Beire, propriedade da Obra do Padre Américo, existem alguns desses impressionantes relatos que podemos ler no jornal “O Gaiato”.

Diz São Paulo: “Porque a sabedoria deste mundo é loucura diante de Deus” (ICor 3,19); e ainda: ” Mas o que é louco segundo o mundo é que Deus escolheu para confundir os sábios; o que é fraco segundo o mundo, Deus o escolheu, para confundir o que é forte”(ICor 1,27).

O mesmo se pode afirmar das criancinhas pequenas, que Jesus tanto amava, que os santos tanto amam, também nas suas almas puras, desde que baptizadas, se podem contemplar os Mistérios de Deus Criador e Redentor; porque o organismo Sobrenatural reside na alma da criança, mesmo que os seus orgãos exteriores ainda não estejam desenvolvidos; e ai de nós, muito frequentemente, é o desenvolvimento desses orgãos, na sua relação com o mundo altamente corrompido, que faz perder esses Bens Sobrenaturais. O Padre Cruz gostava muito de beijar as criancinhas no peito para nelas honrar a presença do Espírito Santo; mas quando, por acaso, a criancinha não estava baptizada, imediatamente O Padre Cruz o reconhecia e logo se retirava.

Nosso Senhor nasceu e viveu, simplesmente, pobre entre os pobres. Assim também a maioria dos Seus santos. As grandezas deste mundo, em geral, conduzem ao Inferno. Evidentemente, há muitos pobres de bens materiais, que bem gostariam de ser ricos, neles permanecendo a já citada paixão desordenada pelos bens deste mundo. Mas esses serão duplamente infelizes, pois sofrem neste mundo a sua pobreza material, e sofrerão no Inferno as consequências da sua pobreza espiritual.

Num mundo sem pecado original, as riquezas materiais não constituiríam obstáculo ao crescimento espiritual; e mesmo na ordem actual de salvação, as pessoas muito virtuosas sabem sempre como utilizar sàbiamente as riquezas que porventura tenham que possuir em consequência da objectividade da sua posição na hierarquia social, e sobretudo NÃO SE APEGAM DESORDENADAMENTE A ELAS.

A perfeição moral Sobrenatural, constituindo a única fonte de verdadeira felicidade, exerce-se sempre muito mais pela renúncia do que pela posse. Além disso, só encontra as realidades espirituais mais elevadas, mais puras e mais gratificantes, naquilo que os mundanos mais odeiam: O esquecimento de si mesmo, entendido aqui, como a Santa Madre Igreja sempre o entendeu, na INVERSÃO DO FLUXO VITAL QUE CARACTERIZA AS PESSOAS CHAMADAS “NORMAIS”. Essa inversão pode conter elementos de sublimação, se tal for necessário, caso contrário, constituirá sòmente numa inversão do curso “normal”do pensamento e da vontade. A Graça Santificante, as virtudes Teologais e Morais, e sobretudo os Dons do Espírito Santo, tornarão essa inversão indissociável da já citada felicidade Sobrenatural, a qual não exclui, cuidado, grandes sofrimentos, sobretudo de ordem moral.

É certo que mesmo nos santos mais perfeitos se encontram vestígios do “homem velho”, mas o importante é jamais desistir da caminhada para Deus, jamais se dar por contente, porque quem pára cai! E isto é tanto mais verdade porque quanto mais nos aproximamos de Deus Nosso Senhor, mais fortemente somos atraídos por Ele, porque cada vez contemplamos mais profundamente as inefáveis e Incriadas riquezas Divinas.

Dizia Santo Afonso Maria de Ligório: “Ah! Como seriam grandes santos os mundanos, se consagrassem a Deus tudo o que sofrem para se condenar”.

LOUVADO SEJA NOSSO SENHOR JESUS CRISTO

Lisboa, 10 de Agosto de 2018

Alberto Carlos Rosa Ferreira das Neves Cabral

Fonte:https://promariana.wordpress.com/2018/08/10/a-luz-sobrenatural-de-deus-e-as-trevas-hediondas-do-mundo/




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