Sinais do Reino


Palavra do Bispo
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21/12/2014
"O porquê não irei à ordenação do novo bispo de Ciudad del Este", declaração de Mons. Rogélio Livieres Plano

 "O porquê não irei à ordenação do novo bispo de Ciudad del Este", declaração de Mons. Rogélio Livieres Plano

21/12/2014

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Eu não assistirei à ordenação episcopal do novo Bipo de Ciudad del Este. Ainda que ele pessoalmente não tenha nada a ver com meus problemas com a Conferência Episcopal Paraguaia (CEP), não quero estar com os bispos da CEP como se aqui não houvesse ocorrido nada.

[Eu] Havia decidido guardar silêncio sobre o ocorrido com a penosa Visita Apostólica da Diocese de Ciudad del Este e à minha posterior destituição como Bispo dela, ao ser declarada pelo Vaticano como "sede vacante". Sem embargo, o sr. Arcebispo de Assunção, Mons. Edmundo Valenzuela, voltou ao tema em uma entrevista brindada ao diário ABC Color, em sua edição de 8 de dezembro passado, expressando seus desejos de que este domingo, dia fixado para a ordenação do novo Bispo de Ciudad del Este, os Bispos do Paraguai me abracem e eu a eles, como símbolo de comunhão. Também realizou uma série de considerações que reclamam meus agradecimentos, por um lado, assim como algumas precisões e reflexões, pelo outro.

Primeiramente, me reconforta que o Arcebispo tenha deixado absolutamente claro que o problema suscitado, que teve ampla divulgação nos meios de imprensa, se deve a um problema de "crise de comunhão interna", ou seja, de relações entre minha pessoa e os outros Bispos do Paraguai. Em efeito, não houve outro fundamento, seja este de ordem financeiro, sexual ou doutrinal, como falsamente alguns suspeitavam, senão exclusivamente a "falta de comunhão".

Agradeço também ao Monsenhor Valenzuela por haver reconhecido o que tantas vezes se havia afirmado: os problemas de "comunhão" começaram antes incluso de que eu pusesse um pé na Diocese de Ciudad del Este, com apenas a minha nomeação como Bispo por parte de São João Paulo II. Claramente, isto indica que não se tratava de um mal relacionamento de caráter pessoal -começaram antes que me conhecessem.

Qual é, então, a causa dos conflitos que começaram há mais de 10 anos? Neste momento, os Bispos queriam para Ciudad del Este um pastor que compartilhasse com eles sua mesma visão e modelo de Igreja. Como pensaram que eu não "encaixava" em seu paradigma, protestaram à Santa Sé, pedindo que revogassem minha nomeação. Mas Roma se manteve firme e me "impôs" contra o parecer da Conferência Episcopal.

De fato, e a pedido do Papa Bento, eu desenvolvi um modelo pastoral distinto, cujo eixo principal foi a criação de um novo seminário diocesano. E abundância de sacramentos. Eis aí a raiz das desavenças.

Hoje muitos, incluso entre os mesmo bispos, reconhecem o dinamismo e os bons frutos que se produziram em Ciudad Del Este. Frutos muito grandes que mudaram o perfil espiritual de nossa queria Diocese. Sem embargo, aqui o juízo da árvore não se faz em base aos frutos, se não à importância de se dão à uniformidade monolítica entre os bispos, a que erroneamente se define como "comunhão". As tradições e normas "dos homens" de Igreja são mais importantes que as surpresas de Deus e as normas da fé e a doutrina.

O sr. Arcebispo, em sua entrevista, reconheceu que o Bispo é a máxima autoridade pastoral na diocese que Deus mesmo lhe recomendou. Sem embargo, aqui seguindo a lógica da unidade monolítica, destacou que dita autoridade se deve exercer seguindo às orientações da Conferência Episcopal. Aos Bispos em comunhão com todo o colégio episcopal do mundo e ao Papa, estabeleceu-os Jesus Cristo como fundamento da sua Igreja.

As conferências Episcopais, por sua parte, são apenas criações humanas que se consolidaram recentemente em meados do século passado -com todas as vantagens e desvantagens que as coisas humanas têm. A comunhão dos Bispos no colégio episcopal, portanto, não passa pela conformidade com as recomendações que tenha uma Conferência Episcopal a sugerir a seus membros.

Mas, insisto, as tradições e normas humanas terminam impondo-se com mais força que as leis de Deus. Isto tecnicamente  se chama farisaísmo, já Jesus Cristo havia assinalado com este modo de ver o problema as coisas, mas típico dentro da religião.

As únicas autoridades que Deus há constituído em sua Igreja, e sobre a que este se edifica, são o Bispo de Roma, sucessor do Apóstolo Pedro, e os bispos e suas dioceses, sucessores dos outros apóstolos. As conferências episcopais, por si, não têm autoridade alguma sobre os Bispos. Somente as delegadas pela autoridade da Santa Sé que, de fato, delegou muito pouco às mesmas.

O Concílio Vaticano II reafirmou a autoridade divina dos Bispos frente a uma indevida centralização vaticano que se havia vindo impondo -como outra de tantas tradições humanas- especialmente depois do Concílio Vaticano I e sua proclamação da Infalibilidade do Papa e sua suprema autoridade.

Em outra frente, me entristeceu ver que o sr. Arcebispos manifestara que eu devia voltar a um estado de comunhão não só com a Conferência Episcopal, senão também com o Papa Francisco. Sempre estive em comunhão com todos os Papas e sempre o seguirei estando. Inclusive quando me tocou consentir à decisão de minha destituição como Bispo. E isto apesar de que, pessoalmente e no juízo de minha consciência, considero esta decisão como injusta processualmente, infundada em quanto à substância da causa, arbitrária e atentadora contra à legítima autoridade que Deus deu aos Bispos como sucessores dos Apóstolos, e totalmente contrária ao ensinado pelo Concílio Vaticano II.

De modo breve, um abuso de autoridade, que em bom cristão se chama um ato tirânico e ditatorial. Mas como não há autoridade na terra superior à do Papa, eu acatei sem resistir, precisamente, como expressão extrema de minha comunhão com o sucessor de Pedro, apesar de que me retirara o apoio que os anteriores Papas me haviam dado nesta mesma causa.

Que o Papa tenha que render contas ante Deus por este ato que considero mau não tem nada de raro nem de polêmico. Como tantos Papas que hão condenado ou mandado à fogueira equivocadamente. É uma simples verdade de fé: teremos, todos, que dar contas de cada um de nossos atos a Deus. Especialmente os mais poderosos, os que mais autoridade hão exercido em nome de Deus. Não creio, por tanto, haver sido desrespeitoso, senão franco e ao mesmo tempo um disciplinado filho da Igreja.

Apesar do injusto obrado, preferi submeter-me -sem renunciar- aos requerimentos pontifícios para evitar maiores males às obras que eu havia promovido, principalmente os seminários. Mas igual lhe pedi desculpas se minhas expressões pudessem haver sido consideradas como uma ofensa ao seu supremo ofício ou pessoa sagrada.

E quanto à "revisão" de meu caso ao que Mons. Valenzuela se refere, a única forma de mudar algo mal fundado e mal dito é, simplesmente, voltar atrás. Mas isto não é algo que aos homens nos resulte fácil, inclusive quando temos equivocado gravemente, como creio que foi em meu caso.

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Eu colaborarei com o novo Bispo, se ele o desejar, na ajuda às instituições criadas por mim e também outras, se me parecer conveniente. Há que ter em conta que durante meu serviço à Diocese, os batismos se triplicaram; os casamentos se duplicaram e ordenei a 70 sacerdotes, coisa que não ocorrido em todo o Paraguai, com as outras dioceses juntas, "que dormem" (aletargadas) há decênios. Assim é que tenho que dar.

Desejo êxito ao novo Bispo.


                                                            +Rogelio Livieres

                                                                             Ex Obispo de Ciudad del Este

Original: http://rogeliolivieres.info/2014/12/porque-no-voy-a-la-ordenacion-del-nuevo-obispo/

 

Fonte:http://www.catolicostradicionais.com.br/2014/12/o-porque-nao-irei-ordenacao-do-novo.html?




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