Sinais do Reino


Vida do Santo
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04/10/2013
São Francisco de Assis

 

Vida de São Francisco de Assis

 

Início

Vivia na cidade de Assis, na região do vale de Espoleto, um homem chamado Francisco. Desde os primeiros anos foi criado pelos pais no luxo desmedido e na vaidade do mundo. Imitou-lhes por muito tempo o triste procedimento e tornou-se ainda mais frívolo e vaidoso.(…)Quanto mais os desejos dos pais são prejudiciais às crianças,tanto mais elas se sentem felizes em lhes obedecer.(…) Nestes tristes princípios foi educado desde a infância o homem que hoje veneramos como santo, porque de fato é santo. Neles perdeu e consumiu miseravelmente o seu tempo quase até os vinte e cinco anos. Pior ainda:superou os jovens de sua idade nas frivolidades esse apresentava generosamente como um incitador para o mal e um rival em loucuras.(…) Na verdade, era muito rico,mas não avarento,antes pródigo; não havido de dinheiro, mas gastador; negociante esperto, mas esbanjador insensato.”(p.180)

A mudança

Arrastados pelos impulsos de sua idade, pelas tendências da juventude e incapaz de controlar-se,poderia sucumbir ao veneno da antiga serpente. Mas a vingança, ou melhor, a misericórdia divina, subitamente desperta sua consciência mediante angústia espiritual e enfermidade corporal conforme as palavras do profeta: “Fecharei com espinhos seu caminho, cercá-lo-ei com um muro”. Prostrado por longa enfermidade, que é o que merece a teimosia dos homens que não se emendam não ser com castigo começou a refletir consigo mesmo de maneira diferente. Já um pouco melhor, e firmado em um bastão,começou a andar pela casa para recuperar as forças. Certo dia, saiu à rua e começou a observar com curiosidade a região que o cercava,mas nem a beleza dos campos, nem o encanto das vinhas, nem coisa nenhuma que é agradável de se ver conseguia satisfazê-lo. Admirava-se por isso de sua mudança repentina e começou a julgar loucos os que amam essas coisas.”(p.181).

“Francisco ainda tentou fugir da mão de Deus, e um tanto esquecido da correção paterna, aparecendo-lhe uma oportunidade, pensou nas coisas que são do mundo e, ignorando o conselho de Deus, prometeu a si mesmo o máximo de glória mundana e vaidade. Pois um certo nobre da cidade de Assis não mediu despesas para se armar militarmente e, inchado pela glória vã, para aumentar as vantagens do dinheiro e da honra prometeu atacar a Apúlia. Ouvindo isso, Francisco, que era leviano e não pouco audaz, preparou-se para ir com ele, porque era de desigual nobreza e mais desmesurado em prodigalidade.” (p.182)

“Numa noite, tendo-se entregue totalmente a essas realizações e pensando ardorosamente em partir, aquele que o tinha tocado coma vara da justiça visitou-o em sonhos,com a doçura de sua graça. E porque era ambicioso de glória, pelo fastígio da glória o venceu e exaltou.” Pareceu-lhe ver sua casa toda cheia de armas:selas, escudos, lanças e outras armaduras. Muito alegre, admirava-se em silêncio, pensando no que seria aquilo. (…) Assim que acordou, levantou-se alegre de manhã e, julgando a visão um presságio de grande prosperidade, assegurou-se de que sua excursão à Apúlia seria próspera. Pois não sabia o que dizia, e ainda não reconhecera o dom que lhe fora feito pelo céu. Poderia ter percebido que sua interpretação do sonho não era verdadeira porque, embora contivesse muita semelhança com feitos já realizados, seu espírito não estava feliz com estas coisas como de costume.”(p.183).

“Já mudado, mas de mentalidade e não exteriormente, não quis mais ir para a Apúlia e procurou orientar sua vontade pela vontade de Deus. Por isso, subtraiu-se aos poucos do bulício do mundo e dos negócios, querendo imitar Jesus Cristo em seu interior. Como um negociante prudente, escondeu aos olhos dos iludidos a pérola encontrada e, ocultamente, procurou vender tudo para poder adquiri-la. (p.183).

“Pensavam os outros que queria casar-se e lhe perguntavam: “Por acaso, você vai se casar, Francisco?” Respondia-lhes: “Vou me casar com uma noiva tão nobre e tão bonita como vocês nunca vão ver, que ganha das outras em beleza e supera a todas em sabedoria”. Na verdade, a esposa imaculada do Senhor era a verdadeira religião, que ele abraçara, e o tesouro escondido era o reino dos céus, que buscou com tanto entusiasmo.”(p.184).


Vende tudo e despreza o dinheiro recebido

“Levantou-se, pois, armado do sinal da santa cruz e, tendo preparado um cavalo, montou e, levando consigo ricas peças para vender, foi depressa para a cidade de Foligno. Tendo vendido como de costume tudo que levara, o feliz mercador abandonou lá também o cavalo em que fora montado, depois de receber o preço que valia. De volta, livre da carga, vinha pensando com visão religiosa no que fazer com o dinheiro.Admirável e repentinamente convertido para as coisas de Deus, achou que era pesado demais carregar aquele dinheiro por mais uma hora que fosse. Considerando simples areia todo aquele pagamento, apressou-se em desfazer-se dela. Como vinha vindo na direção de Assis, encontrou à beira do caminho uma igreja erguida havia muito tempo em honra de São Damião e agora ameaçando ruína por sua muita antiguidade. Chegando a ela, o novo soldado de Cristo, comovido por tão urgente necessidade, entrou cheio de temor e de reverência. Encontrando lá, um sacerdote pobre, beijou suas mãos consagradas cheio de fé, deu-lhe o dinheiro que levava e contou-lhe ordenadamente seu propósito. O sacerdote ficou espantado e, admirando aquela incrível e repentina conversão, recusou-se a acreditar no que ouvia. Com medo de ser enganado, não quis aceitar o dinheiro oferecido. Tinha-o visto, por assim dizer, um dia antes, vivendo regaladamente entre os parentes e conhecidos e manifestando sua loucura mais que os outros. Mas o jovem insistia teimosamente, e com palavras ardentes procurava convencer o sacerdote que, pelo amor de Deus, lhe permitisse viver em sua companhia. Afinal o padre concordou em que ficasse, mas, por medo de seus pais, não recebeu o dinheiro, que Francisco, verdadeiro desprezador de todas as riquezas, jogou a uma janela, tratando-o como se fosse pó. Pois desejava possuir a sabedoria que é melhor do que ouro e adquirir a prudência que é mais preciosa do que prata. (p.185-186).

Perseguido e aprisionado pelo pai

Enquanto o servo de Deus Altíssimo se demorou nesse lugar,seu pai corria por todos os lados em sua busca, querendo saber que fim levara o filho. Quando ficou sabendo como ele estava vivendo naquele local, teve o coração ferido de íntima dor, e ficou perturbado coma súbita mudança. Convocou amigos e vizinhos e correu o mais depressa que lhe foi possível para o lugar onde morava o servo de Deus. Mas Francisco, que era um novo atleta de Deus,ouvindo as ameaças dos que perseguiam e pressentindo sua chegada, quis dar tempo para que eu parasse a raiva, e meteu-se numa cova secreta que tinha cavado para essa finalidade. Serviu-lhe a cova – que só um amigo sabia onde ficava – de moradia, e lá se escondeu durante um mês, mal ousando sair para as necessidades. Comia algum alimento, quando o recebia, no fundo da cova. Todo auxílio era levado em segredo. Banhado em lágrimas, rezava continuamente para que Deus o livrasse da mão dos que o perseguiam e lhe permitisse cumprir seus piedosos propósitos. (p.186)

(…)Embora colocado num buraco e nas trevas, gozava de uma alegria indizível, até então não experimentada. Ardendo inteiro nessa alegria saiu do esconderijo e se apresentou às injúrias dos que o perseguiam. Levantou-se sem vacilar, com alegria e presteza, ostentando o escudo da fé para combater pelo Senhor e munido com as armas de uma grande confiança. Tomou o caminho da cidade e, animado pelo entusiasmo divino, começou a acusar-se por sua demora e covardia.Vendo isso, todos os que o conheciam e confrontavam o presente como passado passaram a insultá-lo vergonhosamente, chamando-o de louco e demente, e lhe atiraram pedras e lama nas praças. Viam-no completamente transformado em seus hábitos e muito acabado pela mortificação, e atribuíam seu comportamento à fraqueza e à loucura. (…)Formou-se, entretanto, um tumulto pelas praças e ruas da cidade, ouvindo-se em toda parte o clamor dos que o insultavam. Entre os muitos a cujos ouvidos chegou, estava também seu pai. Ouvindo o nome do filho,e que estava sendo comprometido neste tipo de conversa com seus concidadãos, levantou-se imediatamente, não para libertá-lo mas para acabar de perdê-lo. Sem consideração alguma, partiu como um lobo para cima da ovelha e, olhando-o com truculência, arrastou-o com modos indignos e afrontosos para casa. Sem qualquer compaixão, prendeu-o por muitos dias em um lugar escuro e, pensando em dobrá-lo para sua opinião, agiu primeiro com palavras e depois com açoites e cadeias. Com isso tudo, o próprio Francisco ficou ainda mais pronto e decidido a seguir seu santo propósito, e sem se convencer com as palavras, nem se cansar da cadeia, não perdeu a paciência. (p.187).

Libertado da prisão pouco tempo depois, tornou-se ainda mais bondoso para com os necessitados.


Resolveu, desde então, não desviar o rosto de pobre nenhum (cfr. Tb 4,7), de ninguém que ao pedir lembrasse o amor de Deus.

Um dia encontrou um cavaleiro pobre e quase nu, ficou com pena e, levado pelo amor de Cristo, deu-lhe generosamente a roupa elegante que estava vestindo.

O que fez menos do que o santíssimo Martinho, a não ser que, embora tivessem o mesmo modo de pensar e de agir, foram diferentes no modo?

Este deu primeiro as vestes e depois o resto; aquele, tendo dado tudo primeiro, deu a roupa no final: ambos viveram pobres e moderados no mundo, ambos entraram ricos no céu.

Aquele, soldado mas pobre, vestiu um pobre com uma parte de sua roupa. Este, que não era soldado mas rico, vestiu com uma roupa boa um pobre soldado.

Ambos, por terem obedecido ao mandamento de Cristo, mereceram uma visão de Cristo: Um foi louvado pela perfeição e o outro recebeu um convite muito honroso para o que ainda tinha que fazer.(p.290)

De fato, pouco depois, teve a visão de um esplêndido palácio, em que encontrou toda sorte de armas e uma noiva belíssima.

No sonho, foi chamado pelo nome de Francisco e seduzido pela promessa de possuir todas aquelas coisas.

Tentou, por isso, ir à Apúlia para entrar no exército e, tendo preparado com muita largueza tudo que era preciso, apressou-se para receber o grau da honra militar.

Seu espírito carnal sugeria-lhe uma interpretação carnal da visão que tivera, quando nos tesouros da sabedoria de Deus ocultava-se algo muito mais preclaro.

Foi assim que, uma noite, estando a dormir, alguém lhe falou pela segunda vez em sonhos, interessado em saber para onde estava indo.

Contou-lhe seus planos e disse que ia combater na Apúlia, mas foi solicitamente interrogado por ele:

- “Quem lhe pode ser mais útil: o senhor ou o servo?”

- “O senhor”, respondeu Francisco.

E ele: “Então, por que preferes o servo ao senhor?”

- “Que queres que eu faça, Senhor (cfr. At 9,6)?” perguntou Francisco.
E o Senhor: – “Volta para a terra em que nasceste (cfr. Gn 32,9), porque é espiritualmente que vou fazer cumprir a visão que tivestes”.

Voltou imediatamente, já feito exemplo de obediência e, deixando de lado a própria vontade, passou de Saulo a Paulo.

Paulo foi derrubado e os duros castigos produziram palavras doces; Francisco trocou as armas materiais pelas espirituais, e recebeu o comando de Deus no lugar da glória militar.

Aos muitos que se admiravam de sua invulgar alegria, dizia que haveria de ser um grande príncipe. (290-291).

Libertação de São Francisco e acolhida pelo Bispo

Aconteceu que seu pai precisou ausentar-se, a negócios, por algum tempo, deixando o homem de Deus preso no calabouço. Sua mãe que ficou com ele sozinha em casa,e não aprovava o procedimento do marido, dirigiu-se ao filho com palavras ternas. Mas, vendo que não conseguia fazê-lo mudar de opinião, sentiu seu coração materno se enternecer e, soltando as cadeias,deixou-o sair.

Vendo que não poderia afastá-lo do caminho em que se metera, o pai cuidou apenas de reaver o dinheiro. O homem de Deus teria querido gastá-lo todo para o sustento dos pobres e na construção daquele lugar mas, como não tinha amor ao dinheiro, não podia sofrer decepção alguma, nem se perturbou com a perda de um bem a que não tinha apego. Achado, pois, o dinheiro que ele, desprezador por excelência dos bens terrenos, ávido demais das riquezas celestes, tinha jogado a uma janela como lixo, acalmou-se um bocado o furor do pai irado. A recuperação do dinheiro foi como um refrigério para a sede de sua avareza. Apresentou-o depois ao bispo da cidade, para que, renunciando em suas mãos a própria herança, devolvesse tudo que possuía. Francisco não se recusou, e até se apressou alegremente a fazer o que lhe pediam.

Diante do bispo, já não suportou demoras e nada o deteve. Nem esperou que falassem, nem ele mesmo disse nada. Despiu-se imediatamente, jogou ao chão suas roupas e as devolveu ao pai. Não guardou nenhuma peça de roupa, ficou completamente nu diante de todos. O bispo, compreendendo sua atitude e admirando seu fervor e sua constância, levantou-se e o acolheu em seus braços, envolvendo-o na capa que vestia. Compreendeu claramente que era uma disposição divina e percebeu que os atos do homem de Deus que estava presenciando encerravam algum mistério.

Tornou-se, desde então, seu protetor, favorecendo-o, confortando-o e abraçando-o com caridade. É aqui que o nu luta com o adversário nu e, desprezando todas as coisas que são do mundo, aspira apenas a justiça de Deus. Foi assim que Francisco tratou de desprezar a própria vida, deixando de lado toda solicitude, para encontrar como um pobre a paz no caminho que lhe fora aberto: só a parede da carne separava-o ainda da visão celeste.(p.188-189).

Pregação aos pássaros

“Enquanto muitas pessoas, como dissemos, se juntavam aos irmãos, o santo pai Francisco andava pelo vale de Espoleto. Chegando perto de Bevagna, encontrou uma multidão enorme de pássaros de todas as espécies, como pombas, gralhas e outras que vulgarmente chamam de corvos. Quando os viu, o servo de Deus Francisco, que era homem de grande fervor e tinha um afeto muito grande mesmo pelas criaturas inferiores e irracionais, correu alegremente para eles, deixando os companheiros no caminho. Aproximou-se e vendo que o esperavam sem medo, cumprimentou-os como era seu costume. Mas ficou muito admirado porque as aves não fugiram como fazem sempre e, cheio de alegria, pediu humildemente que ouvissem a palavra de Deus. Entre muitas outras coisas, disse-lhes o seguinte: Passarinhos,meus irmãos, vocês devem sempre louvar o seu Criador e amá-lo,porque lhes deu penas para vestir, asas para voar e tudo que vocês precisam. Deus lhe deu um bom lugar entre as suas criaturas e lhes permitiu morar na pureza do ar, pois embora vocês não semeiam nem colham, não precisam se preocupar porque Ele protege e guarda vocês.” Quando os passarinhos ouviram isso, conforme ele e seus companheiros contaram depois, fizeram uma festa à sua maneira,começando a espichar o pescoço, a abrir as asas e a olhar para ele. Ele passou pelo meio deles e voltou roçando a túnica por suas cabeças e corpos. Depois abençoou-os e, fazendo o sinal da cruz, deu-lhes licença para voar. Com os companheiros, o bem-aventurado pai continuou alegre pelo seu caminho, dando graças a Deus, a quem todas as criaturas louvam com humilde reconhecimento. (…)Daí pra frente, passou a exortar com solicitude todos os pássaros, animais, répteis e mesmo as criaturas insensíveis para louvarem o nome do Salvador, conhecia a sua obediência por experiência própria.”(p.220-221).

Doentes curados por objetos tocados por ele

“O povo lhe trazia pães para benzer e, guardando-os por muito tempo, conseguia a cura de diversas doenças só de prová-los. Também era muito freqüente cortarem a sua túnica cheios de fé, deixando-os às vezes quase sem roupa. E o que é mais para se admirar: se o santo pai tocava alguma coisa, a saúde era devolvida a muitas pessoas através dela. “(p.224).

“Numa estadia que fez no eremitério chamado Alverne, que tem este nome por causa de sua localização, dois anos antes de entregar sua alma ao céu, teve uma visão de Deus em que viu um homem, com aparência de Serafim de seis asas, que pairou acima dele com os braços abertos e os pés juntos, pregado numa cruz. Duas asas elevaram-se sobre a cabeça, duas estendiam-se para voar e duas cobriam o corpo inteiro. Quando o servo do Altíssimo viu isso ficou muitíssimo admirado, mas não compreendia o sentido dela. Sentia um grande prazer e uma alegria enorme por ver que o Serafim olhava para ele com bondoso e afável respeito. Sua beleza era indizível, mas o fato de estar pregado na cruz e a crueldade de sua paixão atormentavam-no totalmente. Assim se levantou, triste e ao mesmo tempo alegre e de dor. Tentava descobrir o significado da visão e seu espírito estava muito ansioso para compreender o sentido. Sua inteligência ainda não tinha chegado a nenhuma clareza, mas seu coração estava inteiramente dominado por esta visão, quando, em suas mãos e pés começaram a aparecer, assim, como as vira pouco antes no homem crucificado, as marcas de quatro cravos. Suas mãos e pés pareciam atravessados bem no meio pelos cravos, aparecendo as cabeças no interior das mãos e em cima dos pés, com as pontas saindo do outro lado. Os sinais eram redondos no interior das mãos e longos no lado de fora, deixando ver um pedaço de carne como se fossem pontas de cravos entortadas e rebatidas, saindo para fora da carne. Também nos pés estavam marcados os sinais dos cravos, sobressaindo da carne. O lado direito parecia atravessado por uma lança, com uma cicatriz fechada que muitas vezes soltava sangue, de maneira que sua túnica e suas calças estavam muitas vezes banhadas no sagrado sangue. “(p.246-247).

São Francisco se juntou aos pobre e comeu junto com eles

Passou a ser, então, o maior amigo dos pobres, e seu santo começo fazia entrever a perfeição que haveria de atingir mais tarde.
Muitas vezes despiu-se para vestir os pobres, procurando assemelhar-se a eles se não de fato, nesse tempo, pelo menos de todo coração.

Numa peregrinação a Roma, o amor da pobreza levou-o a tirar sua roupa luxuosa e a vestir a de um pobre. Juntou-se alegremente aos mendigos no átrio da igreja de São Pedro, onde são numerosos, e comeu avidamente com eles, sentando-se alegre no meio deles e sentindo-se como um deles.

E se não fosse pela vergonha de conhecidos, teria feito a mesma coisa
muitas outras vezes.

Diante do altar do príncipe dos apóstolos, admirado de serem tão poucas as esmolas lá deixadas pelos visitantes, jogou uma mão cheia de dinheiro, para mostrar que devia ser especialmente honrado por todos aquele que por Deus foi honrado acima de todos os demais.

Muitas vezes presenteou sacerdotes pobrezinhos com paramentos sagrados, pois prestava a todos a devida honra, mesmo nos graus mais inferiores.

Absolutamente íntegro na fé católica e destinado a receber uma missão apostólica, sempre teve a maior reverência para com os ministros e os ministérios de Deus(p.293).

Perseguição do irmão de sangue

Seu irmão de sangue também o perseguiu com palavras envenenas, à maneira do pai. Numa manhã de inverno, vendo Francisco a orar coberto de trapos e tremendo de frio, disse com perversidade a um concidadão: “Pede a Francisco para te vender um tostão de suor”. Ouvindo isso, o homem de Deus se alegrou muito e respondeu sorrindo: “De fato, vou vendê-lo muito caro ao meu Senhor”- Nada mais verdadeiro, porque recebeu não só o cêntuplo mas até mil vezes mais neste mundo, e no futuro ganhou a vida eterna não só para si, mas também para muitos outros. (p.296).

Providência Divina

Como convidou seu médico para o almoço, mesmo sem os irmãos terem nada, e quantas coisas o Senhor deu de repente; e da providência de Deus para com os seus.

Quando o bem-aventurado varão morava em um eremitério perto de Rieti, visitava-o um médico, todos os dias, para cuidar de seus olhos.
Certo dia, disse o santo aos seus: “Convidai o médico e dai-lhe um ótimo almoço”.

O guardião respondeu: “Pai, digo com rubor que temos vergonha de convidá-lo, porque estamos muito pobres”.

O santo respondeu dizendo: “Que quereis que eu diga de novo?”
E o médico, que estava presente, disse: “Também eu, irmãos caríssimos, terei como delícias a vossa penúria”.

Os frades correram e puseram na mesa toda a provisão da sua dispensa, isto é, um pouquinho de pão, um pouco de vinho e, para comerem alguma coisa melhor, alguns legumes trazidos da cozinha.

Nesse meio tempo, a mesa do Senhor teve pena da mesa dos servos: bateram à porta e eles foram logo atender.

Era uma mulher que lhes deu uma cesta cheia: um belo pão, peixes e pastéis de camarão, coroados, por cima, com mel e uvas.

Ao ver isso, a mesa dos pobres se alegrou e, deixando os pratos miseráveis para o dia seguinte, comeu logo os mais preciosos.

Suspirando, o médico falou dizendo: “Irmãos, nem vós religiosos nem nós seculares reconhecemos a santidade deste homem”.

Teriam ficado saturados, se não os tivesse satisfeito mais o milagre que a comida.

Pois é assim que o olhar paterno de Deus jamais abandona os seus; pelo contrário, serve-os melhor quanto mais são necessitados. Como Deus é mais generoso que o homem, alimenta-se numa mesa melhor o pobre que o tirano.(p.319-320).

Rezando, tira água de uma pedra para servir ao irmão com sede

Uma vez São Francisco quis ir a um certo eremitério para aí se entregar mais livremente à contemplação, mas estava não pouco enfraquecido e conseguiu com um homem pobre um jumento para montar.

Como eram dias de verão, seguindo o homem de Deus e subindo a montanha, o camponês, cansado daquela viagem numa longa e dura caminhada, começou a desfalecer pelo ardor da sede antes de chegarem ao lugar.
Gritou atrás do santo insistentemente e pediu que tivesse misericórdia dele: disse que ia morrer se não fosse reanimado com um pouquinho para beber.
O santo de Deus, que sempre tinha compaixão dos aflitos, desceu imediatamente do jumento, ajoelhou-se no chão, estendeu as mãos para o alto e não parou de rezar enquanto não sentiu que tinha sido atendido. Disse, então, ao camponês:

“Vai depressa, que ali mesmo encontrarás água para beber, produzida da pedra neste instante pela misericórdia de Cristo”.

Estupenda bondade de Deus, que tão facilmente se inclina aos rogos de seus servidores!
Um aldeão pôde beber a água da pedra pela virtude orante e tirou a bebida da rocha duríssima.

Nesse lugar nunca tinha havido um curso de água i, nem puderam encontrá-lo mais tarde, de acordo com uma escrupulosa pesquisa.

Por que admirar, se este homem, cheio do Espírito Santo, reproduz em si mesmo os feitos admiráveis de todos os justos?

Não nos devemos surpreender de que uma pessoa unida a Cristo por graças tão singulares realize prodígios iguais aos que foram operados pelos outros santos.(p.322).

Dinheiro transformado numa cobra

Passando certa vez o homem de Deus com um companheiro pela Apúlia, perto de Bari, encontrou no caminho uma bolsa grande, dessas que chamam de alforje de negociante, cheia de moedas.

O companheiro chamou a atenção do santo e insistiu com ele para recolher a bolsa e dar o dinheiro aos pobres.

Falou em piedade para com os necessitados e fez o elogio das obras de misericórdia que podiam ser feitas com aquele dinheiro.

O santo se recusou absolutamente e disse que aquilo era manha do diabo.

Disse: “Filho, não é lícito pegar o que é dos outros. Dar o que não é nosso é pecado e não merecimento”.

Afastaram-se, apressando-se para terminar a viagem iniciada. Mas o frade não sossegou, iludido por sua falsa piedade. Continuou ainda a sugerir a obra má.
Então o santo concordou em voltar, não para cumprir a vontade do irmão, mas para esclarecer àquele insensato o mistério e divino.

Chamou um rapaz que estava sentado em cima de um poço à beira da estrada, para dar testemunho da Trindade “na boca de duas ou três testemunhas”.

Quando os três chegaram onde estava a bolsa, viram-na gorda de dinheiro.

Mas o santo não deixou nenhum deles se aproximar, querendo demonstrar com a força da oração a ilusão diabólica.

Afastou-se à distância de uma pedrada e se dedicou à santa oração.

Quando voltou da oração, mandou o frade pegar a bolsa que, por efeito de sua oração, continha uma cobra no lugar do dinheiro.

O frade começou a tremer de medo, tomado de estranho pressentimento.

No fim, por respeito à santa obediência deixou de duvidar e pegou a bolsa.
Não era pequena a cobra que saiu lá de dentro, convencendo o frade da falsidade do demônio.

Disse o santo: “Irmão, para os servos de Deus, o dinheiro é apenas o diabo e uma cobra venenosa”.(p.337).

Admiração pelos que são mais pobres

Aconteceu certo dia, em que o homem de Deus andava pregando, encontrou um pobrezinho na rua.

Vendo-o sem roupa, ficou compungido e, voltando-se, disse a seu companheiro: “A miséria desse homem é uma grande vergonha para nós, e repreende muito a nossa pobreza”.

O companheiro respondeu: “Por que, irmão?” E o santo, com voz de lamento: “Escolhi a pobreza como minha senhora e toda minha riqueza, e ela está brilhando muito mais nesse homem.

Ou não sabes que por todo o mundo correu nossa fama de pobres por amor de Cristo? Pois esse pobre está provando que isso não é verdade”.
Ó desconhecida inveja! Ó emulação que tem que ser emulada por seus filhos!

Não é aquela que se aflige com os bens alheios, não é aquela se escurece com os raios do sol; não é aquela que se opõe à piedade; não é aquela que sofre pela lividez.

Pensas que a pobreza evangélica não tem nada para ser invejado? Tem Cristo e, nele, tudo em todas as coisas (cfr. 1Cor 12,6).

Por que cobiças rendimentos, ó clérigo de nossos dias? Amanhã, quando só tiveres nas mãos os lucros dos tormentos, ficarás sabendo que rico de verdade foi Francisco.(p.348).

Morte de São Francisco

Seis meses antes de sua morte, estando em Sena para cuidar da doença dos olhos, começou a ficar gravemente enfermo em todo o resto do corpo. Seu estômago se desfez pelos problemas contínuos e por males do fígado, e vomitou muito sangue, parecendo estar quase à morte.

Ao ser informado, Frei Elias veio de longe, o mais depressa possível, para junto dele. Quando chegou, o santo pai melhorou tanto, que pôde sair daquela terra e ir com ele para Celle, perto de Cortona. Mas, pouco depois de ter chegado, seu ventre se intumesceu, incharam-se as pernas e os pés, e o estômago piorou cada vez mais, mal podendo reter algum alimento.

Pediu, então, a Frei Elias, que o fizesse levar para Assis. O bom filho atendeu o que lhe pedia o bondoso pai, preparou tudo e levou-o para onde desejava.
Alegrou-se a cidade com a chegada do bem-aventurado pai, e todos louvavam a Deus. Toda a multidão do povo sabia que o santo de Deus ia morrer logo, e foi por isso que se alegrou tanto.(p.255).

“De fato, foi por disposição de Deus que sua santa alma, livre do corpo, partiu para o reino dos céus do mesmo lugar em que, ainda na carne, teve o primeiro conhecimento das coisas espirituais e lhe foi infundida a unção salvadora.
Sabia que o Reino dos Céus está em toda parte e que em qualquer lugar a graça divina pode ser dada aos escolhidos de Deus, mas a experiência lhe ensinara que aquele local da igreja de Santa Maria da Porciúncula estava cheio de graça mais abundante e era freqüentado pelos espíritos celestiais.
Dizia muitas vezes a seus irmãos: “Não saiam nunca deste lugar, meus filhos.
Se os puserem para fora por um lado, entrem pelo outro, porque este lugar é verdadeiramente santo e habitação de Deus.

Aqui o Altíssimo nos deu crescimento quando ainda éramos poucos. Aqui iluminou o coração de seus pobres com a luz de sua sabedoria. Aqui incendiou nossas vontades com o fogo do seu amor.

Quem rezar com devoção neste lugar conseguirá o que pedir, e quem o desrespeitar será mais gravemente punido. Por isso, filhos, tenham todo o respeito para com o lugar onde Deus mora, e louvem aqui o Senhor com todo o seu coração, entre gritos de júbilo e de louvor”.(p.255-256).

Nesse meio tempo, a doença se agravou, desvanesceu-se todo o vigor de seu corpo e, já sem forças, não se podia mover de maneira alguma.
Perguntando-lhe um frade o que preferia suportar: essa doença constante e demorada ou o martírio violento nas mãos de um carrasco, respondeu:
“Filho, para mim a melhor coisa, a mais agradável e desejável sempre consistiu em fazer o que o Senhor mais desejar de mim e em mim. A única coisa que desejo é estar sempre de acordo e obedecendo à sua vontade em tudo e por tudo.

Para mim, no entanto, suportar esta doença, mesmo que seja por mais três dias, seria mais doloroso do que qualquer martírio. Não estou falando de recompensa por merecimento, mas apenas do sofrimento que a doença traz consigo”.

Duas vezes mártir era ele, que suportava de boa vontade, risonho e alegre, o que para os outros era duro e insuportável só de ver!
De fato, “não tinha sobrado nele membro algum sem excessiva dor”. Já tinha perdido o calor natural e se aproximava cada vez mais da morte.
Espantavam-se os médicos e admiravam-se os frades de que seu espírito pudesse viver em um corpo já tão morto, pois a carne já se havia consumido e estava reduzido a pele e ossos.(p.256).

Vendo aproximar-se o último dia, que inclusive já lhe fora revelado divinamente dois anos antes, chamou os frades que quis, abençoou a cada um conforme lhe foi inspirado pelo céu, como outrora o patriarca Jacó com seus filhos, e mesmo como um outro Moisés antes de subir ao monte que Deus lhe havia indicado, cumulou de bênçãos os filhos de Israel.

Frei Elias estava à sua esquerda e os outros filhos sentados ao redor. O santo cruzou os braços e pôs a mão direita sobre a cabeça dele. Privado como estava da luz e do uso dos olhos do corpo, perguntou:

- “Sobre quem coloquei minha mão direita?”

“Sobre Frei Elias”, responderam. “É isso que eu quero”, disse. “Eu te abençôo, meu filho, em tudo e por tudo, e como o Senhor em tuas mãos aumentou os meus irmãos e filhos, assim sobre ti e em ti a todos eu abençôo.
No céu e na terra te abençoe Deus, Rei do Universo.

Abençôo-te como eu posso, mais do que eu posso, e, o que eu não posso, que possa em teu benefício aquele que pode tudo.

Lembre-se Deus de tua ação e dos teus trabalhos, e reserve o teu lugar na retribuição dos justos. Que tenhas toda bênção que desejas e alcances tudo que pedires com justiça”.

“Adeus, meus filhos, vivei sempre no temor do Senhor, porque as maiores provações vos ameaçam e a tribulação está às portas.

Felizes os que perseverarem no que empreenderam, porque os escândalos que estão para vir vão afastar alguns do seu meio.

Eu me apresso a ir para a casa do Senhor, para o meu Deus vou com confiança, porque o servi com devoção”.

Como estivesse hospedado no palácio do bispo de Assis, pediu aos frades que o levassem o mais depressa possível para Santa Maria da Porciúncula. Queria entregar sua alma a Deus naquele lugar em que, como dissemos, começou a entender com perfeição o caminho da verdade.(p.257).

Já tinham passado vinte anos desde sua conversão e, como lhe fora comunicado por divina revelação, estava próxima sua última hora.

De fato, quando o bem-aventurado Francisco e Frei Elias moravam juntos em Foligno, certa noite apareceu em sonho a Frei Elias um sacerdote vestido de branco, de idade muito avançada e aspecto venerável, e disse:

“Levanta-te, irmão, e diz a Frei Francisco que já se passaram dezoito anos desde que renunciou ao mundo e aderiu a Cristo. Permanecerá só mais dois anos nesta vida e depois, chamado pelo Senhor, seguirá o caminho de toda carne mortal”.

Era o que estava acontecendo, para que a seu tempo fosse realizada a palavra de Deus, anunciada com tal antecedência.

Tendo descansado uns poucos dias no lugar que tanto amava, e sabendo que tinha chegado a hora de morrer, chamou dois frades, filhos seus prediletos, e lhes mandou que cantassem em voz alta os Louvores do Senhor, na alegria do espírito pela morte, ou antes pela Vida, já tão próxima.

Ele mesmo entoou como pôde o Salmo de Davi: “Em alta voz clamo ao Senhor, em alta voz suplico ao Senhor” (Sl 141,2-8).

Um dos frades presentes, pelo qual o santo tinha a maior amizade, e que era muito solícito por todos os irmãos, vendo isso e sabendo que a morte do santo estava próxima, disse-lhe: “Ó pai bondoso, teus filhos vão ficar sem pai, vão ficar sem a verdadeira luz de seus olhos!

Lembra-te dos órfãos que estás deixando, perdoa todas as nossas culpas e alegra com tua santa bênção tanto os presentes como os ausentes!”
Respondeu-lhe o santo: “Filho, estou sendo chamado por Deus.
A meus irmãos, tanto presentes como ausentes, perdôo todas as ofensas e culpas, e os absolvo quanto me é possível. Leva esta notícia para todos e abençoa-os de minha parte”.(p.258).

Mandou trazer, então, o livro dos Evangelhos e pediu que lessem o trecho de São João no lugar que começa: “Seis dias antes da Páscoa, sabendo Jesus que sua hora tinha chegado e devia passar deste mundo para o Pai…”(Jo 13,1 (12,1) Era justamente o Evangelho que o ministro tinha pensado em ler, antes que lhe fosse dada a ordem. E abriram o livro nesse ponto na primeira vez, embora fosse uma Bíblia inteira o livro em que estavam procurando o Evangelho.

Depois, mandou que lhe pusessem um cilício e jogassem cinzas por cima, porque dentro em breve seria pó e cinza. Estando presentes muitos irmãos, de quem ele era o pai e guia, a esperar com reverência o fim ditoso e bem-aventurado, sua alma santíssima desprendeu-se da carne e foi absorvida pelo abismo da claridade, enquanto seu corpo adormecia no Senhor.

Um de seus irmãos e discípulos, não pouco famoso, cujo nome acho melhor calar agora, porque enquanto viveu na carne não quis gloriar-se desse fato, viu a alma do pai santíssimo subindo diretamente para o céu, acima das grandes águas. Era como uma estrela do tamanho da lua e com toda a claridade do sol, levada por uma nuvenzinha branca.(p.259)

Possa eu exclamar agora: “Como é glorioso este santo, cuja alma um discípulo viu subir ao céu! Bela como a lua, resplandecente como o sol, subindo em uma nuvem branca, brilhava com toda a glória!

Ó luzeiro do mundo, que iluminas a Igreja de Cristo com esplendor maior que o sol, agora já recolheste os raios de tua luz e foste para a pátria esplendorosa, trocando a nossa pobre convivência pela dos anjos e santos!

Ó gloriosa beleza de tão insigne arauto, não deixes teus filhos desamparados, embora já não estejas mais revestido de carne semelhante à nossa.

Sabes, sabes de verdade as dificuldades em que foram abandonados aqueles a quem bastava a tua feliz presença para libertar misericordiosamente, a qualquer momento, dos trabalhos sem conta e das constantes angústias.
Pai santíssimo e cheio de misericórdia, sempre tão pronto a ter compaixão e a perdoar os teus filhos que pecavam! Nós te bendizemos, pai digno, abençoado pelo Altíssimo, que é o Deus eternamente bendito sobre todas as coisas. Amém!”(p.260).

Corpo de São Francisco após a morte

Resplandecendo essa admirável beleza diante de todos os que assistiam, e como sua carne tinha ficado mais alva, era admirável ver em suas mãos e pés não as feridas dos cravos mas os próprios cravos, formados por sua carne, com a cor escura do ferro, e o seu lado direito rubro de sangue.

Os sinais do martírio não incutiam horror nos que olhavam, mas emprestavam muita beleza e graça, como pedrinhas pretas num pavimento branco.
Acorriam os frades seus filhos e, chorando, beijavam as mãos e os pés do piedoso pai que os deixava, e também o lado direito, cuja chaga era uma lembrança preclara daquele que também derramou sangue e água desse mesmo lugar e assim nos reconciliou com o Pai.

As pessoas do povo achavam que era o maior favor serem admitidas não apenas para beijar mas até só para ver os sagrados estigmas de Jesus Cristo, que São Francisco trazia em seu corpo.

Quem, diante dessa visão, não seria levado mais à alegria do que ao pranto? Se alguém chorava era mais pela alegria que pela dor. Quem teria um coração de ferro para ficar sem gemer?

Quem teria um coração de pedra, que não se partisse de compunção, não se acendesse pelo amor divino, não se enchesse de boa vontade?
Quem poderia ser tão duro e insensível que não chegasse a entender que o santo, honrado na terra por esse privilégio especial, devia ser exaltado no céu com uma glória inefável?(p.261).


Eucaristia

“São hoje réprobos todos aqueles que – embora vendo o sacramento do corpo de Cristo que, pelas palavras do Senhor, se torna santamente presente sobre o altar, sob as espécies de pão e vinho, nas mãos do sacerdote – não olham segundo o espírito e a divindade, nem crêem que se trata verdadeiramente do corpo e do sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo. Atesta-o pessoalmente o Altíssimo quando diz: ‘Este é o meu corpo e o sangue da nova Aliança”(Mc 14, 22); e ‘Quem comer a minha carne e beber o meu sangue terá a vida eterna(Jo 6, 55). Por isso, é o Espírito do Senhor, que habita nos seus fiéis, quem recebe o santíssimo corpo e sangue do Senhor(Jo 6,62). Todos aqueles que não participam desse espírito e no entanto ousam comungar, ‘comem e bebem a sua condenação’.(1Cor 11, 29).” (p.60).

Assim, também nós, vendo o pão e o vinho com os nossos olhos corporais, olhemos e creiamos firmemente que está presente o santíssimo corpo e sangue vivo e verdadeiro.”(p.60).

 

Obediência

Abandona tudo quanto possui e perde sua vida aquele que a si mesmo abandona inteiramente à obediência nas mãos do seu prelado. E tudo o que faz e diz,sabendo que não contraria a vontade dele, e sendo bom o que faz, é obediência verdadeira. E se acaso o súdito vê algo melhore mais útil à sua alma do que aquilo que o prelado lhe ordena, sacrifique a Deus seu conhecimento, se aplique com firmeza a cumprir as ordens do prelado, pois nisto é que consiste a verdadeira obediência feita com amor, que agrada a Deus e reverte a bem do próximo. Entretanto, se o prelado der ao súdito alguma ordem contrária à alma, este todavia não se separe dele, embora não lhe seja lícito obedecer-lhe. E se por esse motivo tiver de suportar perseguições da parte de alguém, que então o ame ainda mais por amor de Deus. Pois aquele que prefere aturar perseguições a querer ficar separado de seus irmãos, permanece verdadeiramente na perfeita obediência, porque ‘dá a sua vida pelos seus irmãos’” (Jo, 15, 13).(p.61-62)

Humildade

“Os que estão constituídos sobre os outros não se vangloriem desta superioridade mais do que se estivessem encarregados de lavar os pés aos irmãos. E se a privação do cargo de superior os pertuba mais que a privação do encargo de lavar os pés, amontoam para si tanto mais riquezas com perigo para a alma.” (p.62).

“Não foram tampouco os espíritos malignos que o crucificaram, mas tu em aliança com eles o crucificaste e o crucifica ainda, quando te deleitas em vícios e pecados. “(p.63).

Pecado da Inveja

“Todo aquele que tem inveja do seu irmão por causa do bem que o Senhor por ele diz e faz, comete pecado de blasfêmia, porque tem inveja do próprio Altíssimo, que é quem diz e faz todo bem.(p.64).

Caridade

“Amai os vossos inimigos”etc. Ama verdadeiramente o seu inimigo aquele que não se contristar pela injúria dele recebida,mas por amor de Deus se afligir com o pecado que está na alma dele, e por meio de obras lhe manifesta sua caridade.(p.64).

Importância de manter a pureza

“Há muitos que, pecando ou recebendo alguma injúria, costumam lançar a culpa sobre o inimigo ou sobre o próximo. Mas assim não é na realidade, porquanto cada um tem sob o seu domínio o inimigo, isto é, o próprio corpo, por meio do qual ele peca. Feliz, pois o servo(Mt 24, 46) que, de contínuo, trouxer tal inimigo sob o seu jugo e dele prudentemente se acautelar. Porque enquanto assim agir, nenhum inimigo visível ou invisível lhe poderá fazer mal.”(p.65).

“Vive realmente sem nada de próprio aquele servo de Deus que não se enraivece nem pertuba por causa de ninguém. E bem-aventurado aquele que nada retém para si, mas dá a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus”.(p.65)

Reconhecimento da bondade na pessoa

“Eis o meio de reconhecer se o servo de Deus tem o Espírito do Senhor. Se Deus por meio dele operar alguma boa obra, e ele não o atribuir a si, pois o seu próprio eu é sempre inimigo de todo bem, mas antes considerar como ele próprio é insignificante e se julgar menor que todos os outros homens.(p.65)

Paciência

“O servo de Deus não pode conhecer em que medida possuía paciência e a humildade, enquanto se sentir satisfeito em tudo. Quando porém vier o tempo em que o contrariarem os que deveriam andar conforme os seus desejos, então, quanta paciência e humildade ele manifestar, tanta terá e nada mais.”(p.66).

Da pobreza de espírito

“Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus”(Mt 5, 3). Muitos há que são zelosos na oração e no culto divino, e praticam muito a abstinência e a mortificação corporal. Mas por causa de uma única palavra ou de alguma coisa que se lhes tire, logo se mostram escandalizados e perturbados. Estes não são pobres de espírito, pois quem é deveras pobre de espírito odeia si mesmo(cf. Lc 14, 26; Jo 12, 25) e ama aos que lhes batem.(Mt, 5, 39).(p.66).

Importância de ser pacífico

“Bem-aventurados os pacíficos, porque eles serão chamados filhos de Deus”(Mt 5, 9). São verdadeiramente pacíficos os que no meio de tudo quanto padecem neste mundo, se conservam em paz, interior e exteriormente, por amor de Nosso Senhor Jesus Cristo”.(p.66)

Da pureza de coração

“Bem-aventurados os puros de coração, porque eles verão a Deus(Mt 5, 8). Tem o coração puro os que desprezando as coisas terrenas, procuram as celestiais e, de coração e espírito puros, não cessam de adorar e de ver sempre o Deus vivo e verdadeiro.”(p.66)

Servo e humildade

“Bem aventurado o servo(Mt 24, 46) que não se envaidece com o bem que o Senhor diz e opera por meio dele mais do que com o que o Senhor diz e opera por meio de outrem. Peca o homem que exige mais do que ele mesmo daria de si ao Senhor se Deus.(p.67).

Compaixão

“Bem-aventurado o homem que suporta o seu próximo com suas fraquezas tanto quanto quisera ser suportado por ele se estivesse na mesma situação.” (p.67).

Desapego

“Bem-aventurado o servo que entrega todos os seus bens ao Senhor seu Deus; portanto, quem para si retém alguma coisa “esconde o dinheiro do seu amo”(Mt 25, 18), e “o que julgava possuir ser-lhe-á tirado”(Lc 8, 18).(p.67)

Permanecer humilde mesmo quando for exaltado

Bem-aventurado o servo que, sendo louvado e exaltado pelos homens, não se considera melhor do que quando é tido por insignificante, simplório e desprezível. Porque o homem vale o que é diante de Deus e nada mais. Ai do religioso que, enaltecido pelos outros, em sua obstinação não quer mais descer. E Bem-aventudado o servo que não é por sua vontade enaltecido e que continuamente deseja ser posto debaixo dos pés dos outros.

Verdadeira e falsa alegria

“Bem-aventurado o religioso que não sente prazer nem alegria senão nas santas palavras e obras do Senhor e por elas conduz os homens em júbilo e alegria no amor de Deus. E ai do religioso que se deleita com palavras ociosas e fúteis e, por esse meio, leva os homens a dar risadas.(p.68).

Sabedoria no falar

“Bem-aventurado o servo que não fala por interesse de recompensa nem manifesta tudo o que pensa nem é precipitado no falar (Pr 29, 20), mas calcula sabiamente o que deve dizer e responder.(p.68).

Aceitar com humildade uma repreensão feita injustamente

“Bem-aventurado o servo que recebe as advertências acusações e repreensões dos outros com tanta paciência como se proviessem dele mesmo. Bem-aventurado o servo que, repreendido, de boa mente se submete, com respeito obedece, humildemente reconhece sua culpa, voluntariamente oferece reparação. Bem-aventurado o servo que não procura logo escusar-se e com humildade suporta vergonha e repreensão por uma falta que não cometeu.(p.68).

“Servo fiel e prudente”(Mt 24, 45) é o servo que em todas as suas faltas não tarda em castigar-se, interiormente pela contrição e exteriormente pela confissão e obras de reparação.(p.69).

Respeito e obediência aos padres e clérigos

“Bem-aventurado o servo de Deus que põe a sua confiança nos clérigos que na verdade vivem segundo a formada santa Igreja Romana. Mas ai daqueles que os desprezam!Pois nem que eles sejam pecadores, ninguém os deve julgar porque o Senhor mesmo reservou para si o direito de julgá-los. Porquanto na medida que excede a tudo a administração que eles exercem sobre o santíssimo corpo e sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, que eles recebem e só eles podem ministrar aos outros, em idêntica medida é maior o pecado daqueles que cometem falta contra eles do que o pecado cometido contra qualquer outro homem deste mundo.(p.69).

Regras de São Francisco de Assis:

1.Onde há caridade e sabedoria,não há medo nem ignorância.
2.Onde há paciência e humildade, não há ira nem perturbação.
3.Onde há pobreza se une a alegria, não há cobiça nem avareza.
4.Onde há paz e meditação, não há nervosismo nem dissipação.
5.Onde o temor de Deus está guardando a casa(cf. Lc,11,21), o inimigo não encontra porta para entrar.
6.Onde há misericórdia e prudência não há prodigalidade nem dureza de coração.

Amor e zelo à Eucaristia

“Onde quer que o santíssimo corpo e sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo for conservado de modo inconveniente ou simplesmente deixado em alguma parte,que o tirem dali para colocá-lo e encerrá-lo num lugar ricamente adornado. (p.76).

“E quando o sacerdote o oferecer em sacrifício sobre o altar, e aonde quer que o leve, todo o povo dobre os joelhos e renda louvor, honra e glória ao Senhor Deus vivo e verdadeiro.” (p.78).

Esmola

“Sejamos, pois caridosos e humildes e façamos esmola porque esta lava a alma das manchas do pecado(Tb 4, 11). Os homens enfim perdem tudo o que deixam neste mundo. Mas levam consigo o fruto da caridade e as esmolas que tiverem feito e o Senhor lhes dará por elas o prêmio e recompensa condigna.(p.85)

Jejum dos vícios e alimentos

“Devemos também jejuar e abster-nos dos vícios e pecados (Eclo 3, 32) bem como do excesso no comer e no beber e devemos ser católicos. (p.85)

Verdadeira humildade

“Nunca devemos aspirar a sobrepor-nos aos outros, mas antes sejamos por amor de Deus os servos e “súditos de toda criatura humana”(1Pd 2, 13).(p.87).

Engano da riqueza

Adoece o corpo, a morte avança, chegam os parentes e amigos e dizem:”Põe tuas coisas em ordem”.Vede como sua mulher, seus filhos, os parentes,os amigos andam fingindo que choram. Levantando os olhos e vendo-os chorar, ele move-se de falsa compaixão, reflete no seu íntimo e diz: Vede minha alma e meu corpo e tudo o que é meu deposito nas suas mãos. Daí o Senhor fala pelo Profeta: ‘Maldito o homem que confia noutro homem’(Jr 17, 5).

E logo mandam vir o padre. O padre diz-lhe: “Você quer fazer penitência por seus pecados?” Responde: “Quero”. “Você está disposto, na medida do possível,a pagar, com seus bens, as dívidas que tem e reparar os logros e enganos que cometeu contra os outros? Retruca ele:”Não”. Diz o padre: “Porque não? E ele responde: “porque entreguei tudo às mãos dos parentes e amigos. E começa a perder a fala e assim morre o infeliz.

Saibam todos: Onde e como quer que um homem venha a morrer em pecado mortal sem a devida reparação – e ele pôde fazer penitência mas não a fez –o diabo lhe arranca a alma do corpo sob tal angústia e medo que ninguém é capaz de conhecer senão quem experimenta em sua própria pele. E todos os talentos e poderes e ciências e sabedorias que julgava possuir ser-lhe-ão tirados(Lc 8, 18). E tem de deixar os seus bens para os parentes e amigos e estes se apoderam deles e distribuem entre si, e dirão mais tarde: “Maldita seja a sua alma, porque ele poderia ter dado e ganho para nós muito mais e não o fez”. O corpo comem-no os vermes. E assim ele perde a alma e o corpo neste mundo passageiro, e ira para o inferno, onde será atormentado para sempre.”(p.89).

Misericórdia

“Não haja irmão no mundo, mesmo que tenha pecado a não poder mais, que, após ver teus olhos, se sinta talvez obrigado a sair da tua presença sem obter misericórdia se misericórdia buscou. E se não buscar misericórdia, pergunta se não na quer receber. E se depois disso ele se apresentar mil vezes diante dos seus olhos, ama-o mais que a mim procurando conquistá-lo para o Senhor.(p.91).

“Se algum irmão, por instigação do inimigo, pecar mortalmente, seja obrigado, sob obediência, a recorrer ao seu guardião. E todos os irmãos que souberem do pecado dele não o envergonhem nem descomponham. Tenham antes grande misericórdia com ele e mantenham oculto o pecado do seu irmão, porquanto “’os são não tem necessidade de médico, senão os enfermos(Mt 9, 12). Sejam igualmente obrigados, sob obediência, a enviá-lo acompanhado ao seu custódio. O custódio, por sua vez, o atenda com misericórdia, como desejaria ser tratado se estivesse em idêntica situação.Os aludidos irmãos não tenham outra faculdade de impor-lhe penitência senão esta: “Vai e não peques mais”!(Jo 8, 11). (p.91-92).

Humildade de Deus

“O Senhor do universo, Deus e Filho de Deus, se humilha a ponto de se esconder, para nosso bem, na modesta aparência do pão; Vede, irmãos, que humildade a de Deus! Derramais ante a Ele os vossos corações(Sl 61, 9)! Humilhai-vos para que Ele vos exalte(1Pd 5, 6)!(p.95).

Paráfrase à Oração do Pai nosso:

Ó santíssimo Pai nosso: Criador, Redentor, Salvador e Consolador;

Que estais nos céus: nos anjos e nos santos. Vós os iluminais para o conhecimento,porque vós, Senhor, sois o Amor. Vós habitais neles repletando-os para a vida beatífica, porque vós, Senhor, sois o sumo Bem, o Bem eterno, do qual procede todo bem e sem o qual nada pode ser bom;

Santificado seja o vosso nome: reluza em nós o conhecimento de vós, para podermos reconhecer a largura de vosso benefícios, o cumprimento de vossas promessas, a altura de vossa majestade e a profundidade dos juízos(cf. Ef. 3,18);

venha a nós o vosso reino: para que reineis em nós por vossa graça e nos deixeis entrar no vosso reino, onde veremos a vós mesmo sem véu, teremos o amor perfeito a vós, a beatifica comunhão convosco, a fruição de vossa essência.

seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu: a fim de que vos amemos de todo o coração, pensando sempre em vós; de toda a alma, aspirando sempre avós; de todo o nosso entendimento, ordenando todos os desejos a vós e buscando em tudo a honra vossa; de todas as nossas forças, empenhando todas as virtudes e sentidos do corpo e da alma na obediência a vosso amor e em nada mais. E para amarmos o nosso próximo como a nós mesmos, atraindo, na medida de nossas forças, para o vosso amor todos os homens, alegrando-os pelo bem dos outros e pelo nosso próprio bem, compadecendo-nos deles em suas tribulações e jamais ofendendo a ninguém.

o pão nosso de cada dia: vosso dileto Filho nosso Senhor Jesus Cristo, nos daí hoje, a fim de lembrar e reconhecer o amor que teve por nós bem como tudo que por nós tem falado, operado e sofrido;

perdoai-nos as nossas ofensas: por vossa inefável misericórdia e o inaudito sofrimento de vosso dileto Filho, da beatíssima Virgem Maria bem pelos méritos e súplicas de todos os vosso eleitos;

assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido: e o que nós não perdoamos totalmente, fazei vós, ó Senhor, que o perdoemos plenamente, a fim de que possamos amar sinceramente os nossos inimigos e por eles intercedamos junto de vós, não retribuamos a ninguém o mal pelo mal(cf. Rm 12, 17) e nos esforcemos por ser úteis a todos vós;

e não nos deixeis cair em tentação: oculta ou manifesta, impetuosa ou inesperada;

mas livrai-nos do mal: passado, presente e futuro. Amém.

Amar aos que nos fazem mal

“Todos nós, irmãos, consideremos a palavra do Senhor, que diz: “Amai vossos inimigos e fazei o bem aos que vos odeiam”(Mt 5, 44 par). De fato, Nosso Senhor Jesus Cristo cujos vestígios devemos seguir, ao que o traiu chamou de amigo e aos que o crucificaram se entregou espontaneamente. [Por isso são nossos amigos todos os que nos infligem tribulações, angústias], vexames, dores, tormentos, martírios e morte. A eles devemos amar muito, pois por aquilo que nos fazem sofrer, alcançamos a vida eterna. E castiguemos nosso corpo, crucificando-o com seus vícios, concupiscências e pecados, porque, desejando viver segundo a carne, pretende arrebatar-nos o amor a Jesus Cristo, a vida eterna e ir para o inferno junto com a alma; porque por nossa culpa somos asquerosos, contrários ao bem, prontos e dispostos para o mal; porque, conforme diz o Senhor: “É do coração que procedem os maus pensamentos”(Mc 7, 21)(p.103).

Cuidado com a sedução do mundo

“Por isso, irmãos, como diz o Senhor: “Deixemos os mortos enterrar os mortos”(cf. Mt 8, 22); e tenhamos muito cuidado com a malícia e sutileza de Satanás, que não quer que o homem tenha suas forças e seu coração voltados para o Senhor Deus; e rondando em torno do homem deseja roubar-lhe o coração sob a capa de algum favor ou auxílio, sufocar a palavra e os preceitos seculares, no intuito de morar em seu coração e obcecá-lo, como diz o Senhor: “Quando o espírito imundo”(Mt 12, 43),(…) “a última condição deste homem será pior do que a primeira”(Mt 12, 54).(p.103).

Conselho aos frades

“Todos os frades demonstrem aos pobres o amor que nutrem entre si, como diz o Apóstolo: “Não amemos com palavras nem de boca”(1Jo 3, 18). Todos os frades, onde quer que estejam, acautelem-se dos olhares maliciosos e da convivência com mulheres. Ninguém se aconselhe a sós com elas. E adiante: E conservemo-nos puros a nós e a nossos membros todos, pois diz o Senhor: “Todo o que lançar um olhar de cobiça sobre uma mulher”(Mt 5, 28) (p.105).

Não ter posse de bens

“Todos os irmãos, onde quer estejam, nos eremitérios ou nos outros locais,evitem apossar-se de qualquer local ou coisa,nem disputem a posse de qualquer local ou coisa, nem disputem a posse de tais bens com ninguém. E de modo algum discutam com aqueles que vierem a eles, amigos ou adversários.”(p.107)

E onde quer que estejam os frades, onde quer que se encontrem,devem se rever e honrar “mutuamente sem murmuração”(1Pd 4, 9). E procurem não se mostrar tristes, carrancudos e hipócritas; mas “alegres no Senhor”(Fl 4, 4) joviais e amáveis], corteses como convém.

Como lidar na enfermidade

“Por esta razão rogo a todos os meus irmãos enfermos, que em suas enfermidades não se encolerizem nem se inquietem contra Deus ou contra os irmãos, nem vivam por demais ávidos de encontrar remédios, nem pretendam excessivamente libertar a carne que em breve há de morrer, e é inimiga agonizante da alma.”(p.108).

Pedir é um ato de humildade

“E se for necessário peçam esmolas. E não devem envergonhar-se porque Nosso Senhor Jesus”Cristo, Filho de Deus vivo”(Jo 11, 27) e todo-poderoso, enrijeceu o rosto como uma pedra duríssima(Is 50,7) e não se envergonhou. Foi pobre e peregrino,viveu de esmolas, assim como a bem-aventurada Virgem, sua mãe Santa Maria, e os discípulos d’Ele. E se acaso os homens os humilharem negando-lhes esmola, dêem graças a Deus, porque receberão grande honra diante do tribunal de Nosso Senhor Jesus Cristo pelos vexames sofridos. E saibam que serão passíveis de vexames não os que os sofreram mas os que os infligiram; a esmola é herança e justiça que se deve aos pobres e foi adquirida por Nosso Senhor Jesus Cristo. Os irmãos que trabalham no ofício de angariá-la terão grande recompensa e farão os seus doadores lucrá-la e adquiri-la; porque tudo o que os homens deixam nesta terra perecerá, mas da caridade e da esmola que tiverem praticado receberão a vida eterna.(p.108).

Amor aos doentes

“E se algum deles cair doente,os outros irmãos o devem servir, como gostariam de ser servidos(cf. Mt7, 12).(p.136).

Aos pregadores

“Não preguem os irmãos na diocese de algum bispo que lho tenha proibido. E nenhum dos irmãos se atreva, de modo algum, a pregar ao povo sem ter sido examinado e aprovado pelo ministro geral desta fraternidade e por ele admitido ao ofício da pregação. Também admoesto e exorto os mesmos irmãos a que, nos sermões fazem, seja a sua linguagem ponderada e piedosa(cf. Sl. 11, 7e 17, 31), para utilidade e edificação do povo, ao qual anunciemos vícios e as virtudes, o castigo e a glória,com brevidade, porque o Senhor, na terra usou de palavra breve(cf. Rm 9, 28).(p.137).

Instruções

“Entretanto, admoesto e exorto em Jesus Cristo, Nosso Senhor, que os irmãos se preservem de toda soberba, vanglória, inveja, avareza, cuidado e solicitude deste mundo, detração e murmuração;e os que não têm estudos não os procurem adquirir, mas cuidem que, antes de tudo, devem desejar o espírito do Senhor e seu santo modo de operar: rezar sempre a Deus com coração puro; ser humilde e paciente nas perseguições e enfermidades; amar aqueles que nos perseguem e caluniam. Bem-aventurados os que padecem perseguição por amor da justiça, porque deles é o reino dos céus. Quem assim perseverar até o fim, este será salvo”(Mt 5, 44; 5, 10; 10, 22).(p.138)

O trabalho

“Nenhum irmão, onde quer que esteja para servir ou trabalhar para outrem, jamais seja capataz, nem administrador, nem exerça cargo de direção na casa em que serve, nem aceite emprego que possa causar escândalo ou perder sua alma(Mc 8, 36). Em vez disto sejam os menores e submissos a todos que moram na mesma casa.(p.146).

Que os irmãos não blasfemem nem se caluniam,
mas se amem uns aos outros

“E guardem-se todos os irmãos de caluniar a alguém ou de “ocupar-se com discussões vãs”(2Tm 2, 14), mas antes tratem de guardar silêncio, tanto quanto lhes conceder a graça de Deus. Não devem também discutir entre si ou com outros, mas procurar responder humildemente, dizendo:”Somos uns servos inúteis”(Lc 17, 10).(…)Não julguem; não condenem; e, como diz o Senhor, não reparem nos menores pecados dos outros(Mt 7, 3), mas ‘com o coração amargurado’(Is 38, 15) pensem antes nos seus. (p.150).

Conselho aos frades para manter a pureza

“Onde quer que estiverem e aonde quer que forem, abstenham-se todos os irmãos de maus olhares e da freqüentação de mulheres; e nenhum com elas se aconselhe ou ande sozinho com elas ou coma em companhia delas. Os sacerdotes usem de reserva na conversa com elas ao lhes imporem a penitência ou ao darem algum conselho espiritual. Nenhuma mulher preste voto de obediência a algum irmão, mas, recebido o conselho espiritual, faça ela a penitência onde quiser. (p.151).

Pregação pelo testemunho

“Todos os irmãos podem pregar pelas obras.(p.154).

A perfeita alegria

“Mas o que é a perfeita alegria. Eis que volto de Perusa no meio da noite, chego aqui num inverno de muita lama e tão frio que na extremidade da túnica se formaram caramelos de gelo que me batem continuamente nas pernas fazendo sangrar as feridas. E todo envolvido na lama, no frio e no gelo, chego à porta, e depois de bater e chamar por muito tempo, vem um irmão e pergunta: ‘Quem é?’ E eu respondo ‘Frei Francisco’. E ele diz:’Vai-te embora; não é hora própria de chegar, não entrarás1. E ao insistir ele responde: ‘Vai-te daqui, és um ignorante e idiota; agora não poderás entrar; somos tantos e tais que não precisamos de ti’. E fico sempre diante da porta e digo: ‘Por amor de Deus, acolhei-me por esta noite’. E ele responde:’Não o farei. Vai aos crucíferos e pede lá.’ Pois bem, se eu tiver tido paciência e permanecer imperturbável, digo-te que a aí está a verdadeira alegria, a verdadeira virtude e salvação da alma.”(p.174).

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Bibliografia: Fontes Franciscanas

 

Fonte:http://biografiadossantos.wordpress.com/category/sao-francisco-de-assis/




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