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07/04/2014
A Crise na Ucrânia. O que não foi dito.

A Crise na Ucrânia. O que não foi dito.

07/04/2014

Por Marcello Foa – Vatican Insider | Tradução: Gercione Lima – Fratres in Unum.com: O que você entendeu sobre a crise na Ucrânia? Provavelmente, que o povo ucraniano se rebelou contra um presidente arrogante e autoritário, Viktor Yanukovych, que, por sua vez, tentou reprimir os protestos, matando dezenas de pessoas e acabou por ser derrubado. Então, a Rússia ficou com raiva e como represália invadiu a região ucraniana da Crimeia. A essa altura, você, leitor, já deve ter percebido que o povo ucraniano quer fazer parte da União Européia, enquanto Yanukovich e, sobretudo, Moscou são contra.

A realidade, porém, é um pouco diferente e muito mais interessante. Para entender o que está realmente acontecendo é necessário voltar lá atrás, para ser mais preciso, há vinte anos, quando uma das melhores mentes da Administração dos EUA, Zbigniew Brzezinski — ainda hoje muito influente — apontou a Ucrânia como um país de fundamental importância para o novo equilíbrio geo-estratégico para neutralizar a Rússia, ao trazê-la para a órbita da OTAN e da América. Então, teve início um grande jogo de xadrez entre Washington e Moscou. Na verdade, uma longa guerra travada com armas não-convencionais.

Um exemplo dessas “armas não convencionais” são as chamadas “revoluções pacificas”. O método é inspirado nas teorias do americano Gene Sharp e foi aplicado pela primeira vez na Sérvia, em 2000, por ocasião da queda do então presidente Slobodan Milosevic. Funciona assim: do nada começam protestos aparentemente espontâneos, mas que na verdade são planejados cuidadosamente e arquitetados por meio de Organizações Não-Governamentais, Associações de caráter humanitário e partidos políticos, numa operação contínua e bem orquestrada que é amplificada pela mídia internacional e com o apoio interno de algumas instituições, em particular das forças armadas, que acabam por provocar a queda do “tirano”.

O experimento sérvio foi tão bem sucedido que o Departamento de Estado Americano decidiu repeti-lo em outros lugares: em 2003, na Geórgia (Revolução das Rosas) e, no ano seguinte, na Ucrânia, quando no Natal, o candidato progressista Viktor Yushchenko (aquele com o rosto cheio de marcas ) venceu Yanukovych na mesma praça, durante a Revolução Laranja.

Sem dúvida uma obra-prima, mas que serviu pra despertar Putin, o qual ciente desses métodos e assombrado pelo temor de que a mesma estratégia poderia ser usada nas ruas de Moscou contra ele, deu início a uma nova Guerra fria contra os Estados Unidos. O relacionamento com os Americanos de cordial passou a glacial.

Por sua vez, Putin planejou a reconquista da Ucrânia, apelando também para instrumentos não convencionais como ameaça do corte do gás, sabotagem da economia, problemas sociais, técnicas para enfraquecer os partidos da colisão laranja. Resultado: Yanukovych foi eleito presidente em 2010 e a Ucrânia saiu da  órbita americana para voltar ao controle russo.

http://vaticaninsider.lastampa.it/typo3temp/pics/2cefbbed9c.jpg

©ANSA) Manifestantes na Praça Maidan.

Voltamos, assim, aos dias de hoje com o surgimento de uma variante adicional e surpreendente. O protesto que aparentemente começou pacífico tornou-se em parte violento. Mas por por parte de quem? Certamente não da parte de soldados estrangeiros na área, mas por parte de extremistas. E que extremistas! Como agora já se tornou conhecido, aqueles que assaltaram e incendiaram os ministérios na capital Kiev não eram aposentados ucranianos, mas sim milícias paramilitares neo-nazistas, bem instruídas e bem armadas. Os pacifistas serviram como massa de manobra, especialmente nas mãos da mídia. Mas quem realmente derrubou Yanukovych não foi o povo e sim guerrilheiros anti–semitas, fanáticos e ultra violentos. Canalhas autênticos, cujo timing ou senso de oportunidade foi perfeito: a revolta atingiu o seu auge justamente durante os Jogos Olímpicos em Sochi, ou seja, no único momento em que a Rússia não poderia se dar ao luxo de estragar a imagem dos Jogos Olímpicos. A capital Kiev estava em chamas mas o Kremlin foi forçado a permanecer em silêncio.

Uma operação sofisticada e magistral, oficialmente sem autoria identificada, mas tão logo as bandeiras olímpicas foram arriadas veio a resposta do Kremlin, menos sofisticada mas igualmente audaciosa.

Obama não imaginava que Putin poderia ocupar a Crimeia, assim como o Kremlin não contava com a ousadia dos guerrilheiros pró-americanos em Kiev. Sim, estamos surpresos com o desenrolar dos acontecimentos. Mas eles não terminam por aqui. A guerra suja e assimétrica vai durar um longo tempo sob os olhos da opinião pública mundial que assistirá a tudo sem entender, mais uma vez, nada.

 

Fonte:http://fratresinunum.com/2014/04/07/a-crise-na-ucrania-o-que-nao-foi-dito/




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