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09/09/2014
Uma sugestão de agenda para o novo prefeito da Congregação para o Culto Divino

Uma sugestão de agenda para o novo prefeito da Congregação para o Culto Divino

09/09/2014

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Com uma vaga aberta na liderança da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, o Papa Francisco tem a oportunidade de reiniciar a renovação litúrgica, que ficou parada durante os papados dos Papas João Paulo II e Bento XVI.

A análise é do padre jesuíta Thomas Reese, jornalista, publicada no sítio do National Catholic Reporter, 05-09-2014. A tradução é de Claudia Sbardelotto.

O objetivo da reforma litúrgica não é apenas traduzir textos latinos antigos para um bom inglês, mas também rever práticas litúrgicas que permitam às pessoas celebrar a sua fé cristã de uma maneira que melhor se ajuste à cultura contemporânea.

O ex-prefeito, cardeal Antonio Cañizares Llovera, foi nomeado arcebispo de Valência, no leste da Espanha. Suas visões litúrgicas conservadoras estavam mais em sincronia com as do Papa Bento do que com as do Papa Francisco. Cañizares, apontado como prefeito em 2008, apoiava a expansão da Missa Tridentina (forma extraordinária) e, em sua mais recente carta, disse que o abraço da paz deveria ser feito com maior sobriedade.

A boa notícia é que Francisco não é fã da Missa Tridentina. Sim, ele rezou a missa em latim na Coreia, mas isso porque ele não sabia coreano, e os coreanos não sabiam italiano ou espanhol. Como arcebispo de Buenos Aries, Argentina, ele proibiu a Missa Tridentina em sua arquidiocese até que o Papa Bento XVI ordenou que ela estivesse disponível em toda a Igreja universal, se os bispos quisessem ou não. Francisco nunca a celebrou (ele foi ordenado em 1969) e nunca irá. Ele espera que ela desapareça.

E ele não está feliz com o impulso para traduções literais, incluindo a tradução da expressão latina "pro multis" para "for many" [por muitos] em vez de "for all" [por todos] no inglês. Como resultado, a pressão do Vaticano para novas traduções para o italiano, alemão e outras línguas foi colocada em estado de espera.

Francisco também prefere um estilo litúrgico simples e não tem escrúpulos de romper regras litúrgicas por razões pastorais. Por exemplo, como papa e como arcebispo de Buenos Aires, ele lavou os pés de mulheres na Quinta-feira Santa, embora as regras digam que somente homens (em latim, viri) devem ter seus pés lavados.

Mais recentemente, na Coreia do Sul, ele usou um broche de borboleta preso à sua casula em honra às mulheres coreanas que foram escravas sexuais de soldados japoneses durante a Segunda Guerra Mundial. Isso não é aceitável liturgicamente.

A má notícia é que não há nenhuma indicação de que a renovação litúrgica seja uma grande prioridade para o Papa Francisco. Na Argentina, intelectuais progressistas o criticaram por seu apoio às devoções populares. Os pobres que ele tanto amava nas favelas de Buenos Aires eram mais propensos a participar de uma procissão ou de uma devoção do que da Eucaristia. Eles não se conectavam com a Eucaristia no estilo antigo ou renovado. Esperemos que essa desconexão possa levá-lo a procurar um prefeito que esteja mais interessado naquilo que funciona pastoralmente, especialmente com os pobres, do que no que naquilo que os ideólogos conservadores ou liberais querem.

O maior desafio do novo prefeito será desenvolver uma nova forma de gerir uma mudança litúrgica na Igreja. Embora as mudanças após o Concílio Vaticano II foram finalmente abraçadas pelos sacerdotes e pelo povo, houve alguma confusão quando essas mudanças não foram bem explicadas. Além disso, a Igreja deveria ter sido inicialmente mais generosa em permitir que a antiga missa em latim pudesse continuar durante a transição, especialmente para os idosos. Os conservadores também se queixaram dos sacerdotes que fazem experimentos por conta própria.

A resposta do Vaticano foi parar com toda a mudança, reprimir a experimentação e forçar os bispos relutantes em fornecer a Missa Tridentina para quem quisesse muito tempo depois da língua vernácula já ter se firmado e tomado conta. Isso também levou a traduções literais dos textos litúrgicos, tornando-os difíceis de entender. Essa reação exagerada causou azia entre os estudiosos litúrgicos e, mais importante, problemas pastorais nas paróquias.

Uma abordagem mais inteligente e pastoral à reforma litúrgica incluiria três coisas: centros de pesquisa e desenvolvimento litúrgico, testes de mercado e inculturação.

Toda empresa de sucesso faz pesquisa e desenvolvimento de novos produtos. Embora haja estudiosos litúrgicos que fazem pesquisa, eles estão proibidos de dar o próximo passo em direção ao desenvolvimento e à experimentação de novas práticas litúrgicas. Novas práticas litúrgicas exigem testes para descobrir o que funciona, mas nem todo padre tem o treinamento e a habilidade para fazer isso.

O que é necessário são centros de pesquisa e desenvolvimento litúrgico, onde acadêmicos e artistas possam colaborar com uma comunidade disposta no desenvolvimento de novas práticas litúrgicas. Seminários e universidades onde estão os estudiosos litúrgicos são lugares óbvios para isso, mas algumas paróquias poderiam estar dispostas a ser locais "beta" para novas práticas, especialmente se elas forem autorizadas a dar a sua contribuição.

Os bispos deveriam ser autorizados a criar centros para a pesquisa e desenvolvimento litúrgico, operados por especialistas criativos com supervisão e revisão adequada. Uma vez que novas práticas litúrgicas sejam desenvolvidas e aceitas pelas autoridades da Igreja, elas deveriam ser testadas em uma variedade de configurações pastorais antes de serem oferecidas para o resto da Igreja. Apenas as companhias mais arrogantes lançam um novo produto em todo o mundo, ao mesmo tempo, sem testá-lo antes.

Finalmente, o desafio mais difícil seria desenvolver uma liturgia que se encaixa na cultura local. Isso é muito difícil em países multiculturais como os Estados Unidos e a Índia. Nos EUA, a liturgia tem que ser sensível às diferenças culturais com base em raça, língua, etnia, idade, educação e origem social. O que é apropriado em uma escola pode não ser apropriado em uma casa de repouso. Na Índia, a sensibilidade litúrgica à cultura hindu pode ser ofensiva para as minorias que se sentem oprimidas pela maioria hindu.

Esses países podem exigir várias formas litúrgicas para servir múltiplas culturas. A inculturação é mais fácil na teoria do que na prática, e é por isso que precisamos de centros de pesquisa e desenvolvimento litúrgico.

Além de desenvolver um sistema melhor de gestão das mudanças litúrgicas, espero que o novo prefeito revise a mais recente tradução para o inglês da liturgia. Está funcionando? Eu não penso assim.

Muitos padres se queixam da dificuldade de proclamar as orações porque o texto é complicado e às vezes ininteligível. Isso torna, muitas vezes, impossível para as pessoas nos bancos de entender as orações quando rezadas em voz alta. O prefeito deveria encorajar os bispos a serem generosos para permitir que os padres usem a tradução antiga, se eles consideram a nova tradução pastoralmente problemática.

O prefeito também deveria ter um outro olhar para a tradução de 1998 do Sacramentário feito pelo Comitê Internacional para a Língua Inglesa na Liturgia e aprovada pela maioria das conferências dos bispos de fala inglesa, mas rejeitada pelo Vaticano. Essa tradução é substancialmente melhor do que ambas as traduções, novas e antigas, e tem maravilhosas orações de abertura que correspondem às leituras de cada domingo do ciclo de três anos.

E, apesar da carta de Cañizares, o novo prefeito deveria reconsiderar a possibilidade de mover o abraço da paz. O Papa Bento XVI e o ex-prefeito para a Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, cardeal Francis Arinze, supostamente eram favoráveis à relocação do abraço da paz para o final da Liturgia da Palavra, mas voltaram atrás quando a maioria das conferências episcopais disseram para deixar como está.

Experimentar diferentes configurações para o abraço é um projeto ideal para os centros de pesquisa e desenvolvimento litúrgico, assim como as outras sugestões que dou abaixo.

Uma das razões para mover o abraço da paz é que ele abriria espaço para um rito mais expansivo na fração do pão antes da Comunhão. Isso exigiria que o pão realmente parecesse como pão.

Outro projeto que eu espero na agenda do novo prefeito é a elaboração de novos "prefácios" e novas Orações Eucarísticas, além das 13 já aprovados para uso.

Diferentes prefácios poderiam ser preparados para cada domingo do ciclo de três anos, que poderiam ser baseados nas leituras bíblicas do domingo. Mais esforço é necessário para manter os temas da Liturgia da Palavra vivos na liturgia eucarística. Isso é feito em muitas festas, e isso poderia ser feito nos domingos comuns.

Mais orações eucarísticas poderiam ser escritas, especialmente algumas que seguissem o padrão "proclamação e resposta" das orações eucarísticas para as crianças. Eu também sonho com orações eucarísticas que fossem baseadas na linguagem e na teologia de cada Evangelho e em algumas das cartas paulinas.

Muitas pessoas (e sacerdotes) acham que a oração eucarística é a oração do sacerdote. Os sacerdotes dizem-na rapidamente e em um tom monótono, e as pessoas não prestam atenção. Precisamos de mais orações eucarísticas que realmente envolvam tanto os sacerdotes quanto o povo.

Todos os trabalhos no Sacramentário também deveriam ter como prioridade o desenvolvimento de textos comuns a outras Igrejas, uma prioridade que foi recentemente ignorada.

O novo prefeito também teria que ver como a sua congregação está funcionando. Ele precisa substituir muitos dos consultores e empregados cuja única qualificação como liturgista é o seu apoio à Missa Tridentina. Também faria sentido ter os presidentes das comissões de liturgia das conferências episcopais como membros da congregação em vez de cardeais que não têm especialização em liturgia.

A congregação deveria funcionar como uma parteira para a renovação litúrgica e parar de atuar como um policial litúrgico. Isso significaria mais consultas e confiar mais mudanças litúrgicas diretamente às conferências episcopais, que era a intenção original do Concílio Vaticano II, ao invés da microgestão das coisas em Roma.

Apesar da minha esperança de que o novo prefeito adote essa agenda, precisamos reconhecer que, mesmo se tivéssemos textos litúrgicos e cerimônias perfeitas no Sacramentário, a liturgia vive ou morre na paróquia local. O que as pessoas querem é boa música, boa pregação e um sentimento de pertença, o que não pode ser pré-embalado em Roma. As paróquias que são acolhedoras, possuem boa música e boa pregação têm seus bancos cheios. Não podemos culpar Roma por tudo o que está errado na liturgia.

Essa é a minha agenda para o novo prefeito. Qual é a sua?

 

Fonte:http://www.ihu.unisinos.br/noticias/535085-uma-sugestao-de-agenda-para-o-novo-prefeito-da-congregacao-para-o-culto-divino




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