Sinais do Reino


Artigos
  • Voltar






18/07/2020
As origens da devoção ao Preciosíssimo Sangue

As origens da devoção ao Preciosíssimo Sangue

sexta-feira, 17 de julho de 2020

O mês de Julho é, tradicionalmente, dedicado ao Preciosíssimo Sangue, uma devoção que remonta aos primeiros séculos do Cristianismo e que o Beato Pio IX, estimulado por São Gaspar de Búfalo (1786-1837), estendeu, em 1849, a todo o mundo católico. No entanto, nem todos conhecem as origens desta devoção nos tempos modernos.

No início do século XIX, entre a margem esquerda do Tibre e as encostas do Capitólio, estendia-se um vasto quarteirão, onde ficavam muitas igrejas antigas, em torno de uma praça conhecida como Piazza Montanara. Deste canto de Roma, desaparecido após a criação da Via del Mare (hoje Via Luigi Petroselli), permanece a Igreja de São Nicolau no Cárcere (San Nicola in Carcere, n. d. r.), assim chamada porque se crê que os seus subterrâneos fossem uma continuação da Prisão Mamertina.

Nesta antiga Basílica, dedicada a São Nicolau de Mira, conservou-se sempre com particular devoção uma relíquia do Preciosíssimo Sangue. Segundo a tradição, um membro da aristocrática família romana dos Savelli, encontrando-se presente no momento da morte do Salvador, teve a veste salpicada com algumas gotas do seu Preciosíssimo Sangue. Convertendo-se ao Cristianismo, removeu da sua veste a parte ainda vermelha de Sangue e, regressado a Roma, conservou-a na sua nobre residência, fechada num relicário de ébano e cristal, onde permaneceu zelosamente guardada por 1700 anos, até que o príncipe Giulio Savelli (1626-1712), último da sua casa, a ofereceu à Igreja de São Nicolau no Cárcere, adjacente ao seu palácio (hoje Teatro de Marcelo).

A relíquia foi fechada numa caixa de prata e colocada à veneração no altar do Santíssimo Crucifixo, o mesmo que, um dia, havia falado a Santa Brígida. Por ocasião do primeiro centenário da oferta, a 8 de Dezembro de 1808, o cónego Francesco Albertini (1770-1819), reitor da Igreja, fundou, com um grupo de devotos da relíquia, uma Pia Associação em honra do Preciosíssimo Sangue e designou a pregação ao neo-sacerdote Gaspar de Búfalo (Roma 1786-Roma 1837), dirigido por ele espiritualmente. Enquanto isso, na noite de 5 para 6 de Julho de 1809, Pio VII foi preso e deportado. Gaspar de Búfalo e Francesco Albertini recusaram o juramento de lealdade a Napoleão e foram condenados ao exílio e, depois, à prisão.

Depois da queda de Napoleão, Albertini foi nomeado bispo de Terracina, Sezze e Priverno, enquanto Gaspar de Búfalo recebeu ordens do Papa Pio VII para se dedicar às missões populares para derrotar o espírito de impiedade e de irreligião da época. O cónego Albertini é considerado o “Pai Secreto” de todo o movimento devocional, do século XIX, ao Sangue de Cristo, aquele que moldou São Gaspar de Búfalo e o dirigiu à fundação dos Missionários do Preciosíssimo Sangue, que inspirou Santa Maria de Mattias (1805-1866), fundadora das Adoradoras do Sangue de Cristo.                              

Quando, em 1849, Pio IX foi forçado a deixar Roma, ocupada pelos revolucionários, para se refugiar em Gaeta, teve um encontro com o venerável P. Giovanni Merlini, sucessor de São Gaspar de Búfalo e estimadíssimo pelo Pontífice pela sua santidade e sabedoria. Ao Papa, que lhe perguntou quando passariam aqueles terríveis momentos para a Igreja, o santo missionário respondeu que se Pio IX tivesse introduzido a Festa do Preciosíssimo Sangue, regressaria a Roma liberto. Depois de ter reflectido, a 30 de Junho, o Papa comunicou a Merlini que aceitava o seu conselho. No domingo 1 de Julho daquele ano, os revolucionários foram forçados a deixar Roma e o Papa, por decreto de 10 de Agosto de 1849, estendeu a festa do Preciosíssimo Sangue a toda a Igreja, devendo celebrar-se com rito duplo de segunda classe no primeiro domingo de Julho. Pio X fixou-a definitivamente a 1 de Julho e Pio XI, em recordação do décimo nono centenário da redenção, em Abril de 1934, elevou-a a rito duplo de primeira classe.

Paulo VI, no seguimento da reforma litúrgica pós-conciliar, uniu a Festa do Preciosíssimo Sangue à do Corpus Domini, mas a sua decisão provocou um forte descontentamento entre os devotos de uma e da outra devoção. Ao receber os Missionários do Preciosíssimo Sangue, o Papa comunicou-lhes que poderiam igualmente celebrar a Festa, com liturgia de solenidade, a 1 de Julho.

A Pia Associação do Preciosíssimo Sangue, fundada por Mons. Albertini, erecta como Arquiconfraria, pelo Papa Pio VII, em 1815, transferiu-se para a Igreja de São José em Capo le Case (San Giuseppe a Capo le Case, n. d. r.), onde, atrás do altar, ainda se conserva o relicário São Nicolau no Cárcere.

O Sangue de Cristo, a que se deve a nossa redenção, confere à vida de cada cristão um carácter sacrificial como participação na imolação que Cristo fez de Si mesmo no Calvário. Está intimamente ligado ao Santo sacrifício da Missa, que é a renovação incruenta do Sacrifício da Cruz. Talvez não seja por acaso que a Basílica de São Nicolau no Cárcere e a Igreja de São José em Capo le Case, tão intimamente ligadas à relíquia do Sangue de Cristo, tenham hoje o privilégio de estar entre as poucas igrejas de Roma onde se celebra com regularidade a Santa Missa segundo o antigo Rito Romano.        

Veronica Rasponi      

Através de Corrispondenza Romana

Fonte:http://www.diesirae.pt/2020/07/as-origens-da-devocao-ao-preciosissimo.html?




Artigo Visto: 864

 




Total Visitas Únicas: 6.319.567
Visitas Únicas Hoje: 319
Usuários Online: 75