Sinais do Reino


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25/05/2016
Proteger-se da realidade

Proteger-se da realidade

A terceira maneira de se proteger da realidade, e a mais perigosa, é se autoconvencer de que tudo está bem. Por mais argumentos que você apresente, sempre terão uma réplica. Há pessoas capazes de se autoconvencer de que o branco é preto e o preto é branco

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Christopher Fleming – Adelante la Fe | Tradução Sensus fidei:

Frequentemente, quando falo sobre questões sérias, sinto-me como um marciano tentando descrever o meu mundo para alguém que nunca deixou a vila onde nasceu. Isto é especialmente verdadeiro com pessoas mundanas, que não têm a fé católica e só dispõem da informação que recebem das mídias de massa. Falando claro, aqueles que pensam e vivem como manda o sistema. No entanto, isso também acontece com pessoas de igreja. Há muitos que se dizem católicos, mas tem uma visão da vida absolutamente pagã. Quando você tenta tirá-los do seu erro geralmente ocorre uma coisa peculiar: a pessoa se protege da realidade, provavelmente, porque a realidade é muito dura para eles e preferem viver em um mundo de fantasia onde tudo está indo bem. Há várias maneiras de se proteger contra a realidade. A primeira é a de interromper secamente a conversa e se recusar a debater questões de importância. Lembro-me de uma conversa com um familiar não muito tempo atrás que foi mais ou menos assim:

— Todos evitamos falar com você sobre certos assuntos, porque você é muito extremista.

— Você me chama extremista, mas só quero dizer que eu sou católico.

— Não, eu conheço outros católicos, como aqueles que vão às reuniões ecumênicas em nosso templo protestante, e não são como você.

— Eu creio no que os católicos sempre creram. Se esses católicos que você conhece acreditam em outra coisa, será que não-são católicos.

— Vê, você é um radical. Você não entende que os tempos mudam, que é preciso adaptar a religião aos tempos?

— A verdade não muda, Deus não muda.

— Deixa pra lá, com você não dá para falar. Não me diga mais nada, porque fico irritado.

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A segunda maneira de se proteger da realidade é ridicularizar a pessoa que anuncia a verdade. Isto aconteceu comigo inúmeras vezes, então eu me acostumei pois é a mesma coisa. Não que todos aqueles que riem de mim pensem que estou louco; é provável que suspeitem que eu esteja com a razão. É simplesmente uma estratégia de fuga, para escapar de uma verdade incômoda no momento em que surge. Eles também riram de Noé quando advertiu os ímpios que Deus iria destruir o mundo por seus pecados. E aconteceu a Ló, quando ele advertiu seus genros da iminente destruição de Sodoma. Em ambos os casos, os que zombaram do justo pereceram.

A terceira maneira de se proteger da realidade, e a mais perigosa, é se autoconvencer de que tudo está bem. Por mais argumentos que você apresente, sempre terão uma réplica. Há pessoas capazes de se autoconvencer de que o branco é preto e o preto é branco. Digo que esta é a forma mais perigosa de proteger-se da realidade, porque uma vez que alguém escolhe esse caminho, deixa de raciocinar corretamente e entra em uma espécie de loucura voluntária. Algumas semanas atrás, eu estava sentado na mesma mesa com um homem que falava do Papa Francisco. Este homem pertence a um neo-movimento, um dos frutos da “primavera eclesial” que todos nós desfrutamos por décadas. Elogiava Francisco pelo “imenso bem que ele está fazendo.” Não especificou exatamente que bem Francisco faz, da mesma forma que os neo-bispos geralmente não especificam quais são os frutos maravilhosos do Concílio, do qual tanto falam. Eu continuava querendo fazer essa pergunta, porque era uma mesa longa e estava um pouco longe; teria sido inconveniente pôr-me a gritar, mas me serviu para refletir sobre o que induziria um católico a dizer tal absurdo.

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Penso que este homem tenha optado por proteger-se da realidade, e de ter escolhido a terceira via; tornou-se autoconvencido de que tudo corre bem na Igreja, e que é apenas o Papa que precisávamos. Alguns neo-católicos têm inventado um novo dogma para poder justificar tudo o que diz ou faz um Papa: segundo eles é o Espírito Santo quem escolhe o sucessor de São Pedro, portanto, qualquer crítica a Francisco equivale a um ato de rebelião contra Deus Todo Poderoso. Isto, além de ser um contra-senso teológico que nenhum teólogo sério jamais afirmou, é uma blasfêmia horrível. Se o Espírito Santo escolheu todos os papas dos últimos 2000 anos, isso significa que Deus quis que homens fracos, mentirosos, traiçoeiros e covardes guiem a Sua Igreja. Uma coisa é que ele o tenha permitido; outra bem diferente é que ele tenha querido isso.

A atitude servil deste homem frente a Francisco o Calamitoso é um bom exemplo de como muitos católicos conservadores se comportam hoje. A grande maioria dos bispos opta por esta via. Ao invés de alertar os fiéis sobre o perigo que Francisco representa, ao invés de pregar a verdade, contra as heresias que Francisco promove, preferem viver uma vida confortável e desviar o olhar. Eles se autoconvencem de que tudo está bem, e depois de anos de treinamento na arte de auto-engano, até conseguem dormir tranquilamente à noite. Seus fiéis indefesos perdem a fé e são devorados por lobos vorazes, mas eles não perdem o sono.

Contra quem clamam os católicos conservadores autoconvencidos? Contra os poucos que nos atrevemos a dar o alarme. Nós perturbamos o seu doce sonho com palavras estridentes e mensagens inquietantes. Por permanecermos fiéis a nosso Senhor Jesus Cristo e Suas palavras, eles nos chamam, “fanáticos” “desobedientes” e coisas piores. Por querer preservar nossa herança católica rotulam-nos de “nostálgicos”. Por atrevermos a dizer a Verdade, doe a quem doer, ameaçam-nos e nos mandam calar.

Isso me lembra o capítulo sobre o Reino de Rohan, em O Senhor dos Anéis, de Tolkien. Porque, se há alguém entre os meus leitores que ainda não leu esse livro, então explicarei o contexto. O Reino de Rohan está ameaçado pela invasão de hordas de orcs, enquanto seu velho Rei Théoden está sob um feitiço do mago malvado Saruman. Saruman enviou seu criado Língua de Cobra à corte de Rohan, para manipular o Rei Théoden. Com o poder do feitiço, ele apenas dá as ordens ditadas por Língua de Cobra. Os guerreiros que permanecem leais ao rei, mas não estão dispostos a obedecer às ordens perversas, liderados pelo bravo Eomer, são banidos do reino. Ainda assim, continuam lutando contra os orcs como sempre, mas sem o apoio oficial do rei. Quando Gandalf, o mago bom, encontra-se com Eomer, este lhe diz: “Théoden já não mais distingue amigo de inimigo.”

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Quem quiser fazer comparações entre este capítulo da obra de Tolkien e a situação atual da Igreja e tirar as correspondentes lições, não lhe será difícil. Ocorrem-me pelo menos três lições. Primeiro, a infiltração de um único inimigo bem posicionado faz mais mal do que exércitos inteiros. Segundo, a obediência à autoridade legítima nunca pode ser cega, porque um simples homem pode desviar-se. Acima dos homens está Deus e Sua lei. Terceiro, aquele que ama os seus e luta em sua defesa deve estar disposto a sofrer a rejeição e a traição. A primeira vez que li O Senhor dos Anéis fiquei surpreso que tantos guerreiros ficaram com o rei enfeitiçado, ao invés de lutar com Eomer. Penso que por seguir uma falsa obediência acreditaram que estavam fazendo a coisa certa. Vê-se que o autoconvencimento é algo que também acontece na Terra-média.

Christopher Fleming

Publicado originalmente: Adelante la Fe – Protegerse de la realidad

Fonte:http://www.sensusfidei.com.br/2016/05/25/proteger-se-da-realidade/




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