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20/02/2018
O acordo entre China comunista e Vaticano pode ferir a autoridade moral e espiritual da Igreja?

O acordo entre China comunista e Vaticano pode ferir a autoridade moral e espiritual da Igreja?

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Católicos se reúnem em Hong Kong pela notícia de que Beijing e o Vaticano, cujas relações foram cortadas depois que o Estado comunista foi fundado, em 1949, estão entrando em acordo. A pergunta que fazem é: "A que custo?" (Imagem: Reuters)

ESTE É MAIS UM daqueles assuntos dos quais preferiríamos não falar, mas a que nossa consciência nos obriga. Neste momento, a Igreja Católica corre um sério risco de ter gravemente solapada a sua autoridade espiritual e moral perante seus fiéis, mergulhando milhões de almas em confusão. Isto fatalmente acontecerá caso o Vaticano concretize o surreal acordo com o governo comunista chinês. A esse  respeito, alerta também um grupo de líderes católicos baseado em Hong Kong e formado por advogados, acadêmicos e ativistas dos direitos humanos.

Esses fiéis católicos assinaram uma carta aberta destinada aos bispos de todo o mundo, por meio da qual expressam a sua perplexidade, consternação e grave preocupação por esse acordo, segundo o qual o Vaticano reconheceria sete "bispos" nomeados pelo Partido Comunista da China para a sua falsa "igreja patriótica" – a qual, como é de conhecimento público, foi criada com o único intuito de afastar as almas daquele país da verdadeira Igreja Católica.

O acordo, que visa restaurar as relações entre China e Vaticano, cortadas há quase 70 anos, segundo muitos analistas, teólogos e pensadores católicos, poderia criar um novo cisma na igreja na China – com grande potencial para repercutir universalmente.

"Estamos preocupados com o fato de o acordo não apenas deixar de garantir a liberdade desejada pela [verdadeira] Igreja, mas também por representar um golpe ao poder moral da mesma Igreja", diz a carta. "Por favor, repensem o acordo atual e parem com um erro irreversível e lamentável".

A carta vem menos de duas semanas depois que um grande líder católico da Ásia acusou o Vaticano de "vender a Igreja" em seus esforços para entrar em acordo com o governo chinês. O cardeal  Joseph Zen, arcebispo emérito de Hong Kong, divulgou em carta de 29 de janeiro (2018), publicada pelo noticioso AsiaNews, alguns importantes esclarecimentos sobre os dramáticos e inacreditáveis desdobramentos da conjunção da política vaticana com a repressão religiosa comunista na China.

O prelado fez notar, em primeiro lugar, que de fato os representantes vaticanos querem obrigar a bispos legítimos a entregar suas dioceses aos bispos ilegítimos –, um deles excomungado –, todos eles "bonecos" do Partido Comunista.

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O Cardeal Zen (foto) escreveu:

“Reconheço que sou pessimista sobre a situação atual da Igreja na China, mas meu pessimismo se baseia na minha longa e direta experiência da Igreja na China. Tenho uma experiência direta da escravidão e humilhação a que estão submetidos nossos irmãos bispos. De acordo com as informações recentes, não há razão para mudar essa visão pessimista.

O governo comunista está produzindo novas e mais estritas regulações que restringem a liberdade religiosa. A partir de 1º de fevereiro de 2018, a Missa da comunidade 'clandestina' (isto é, legítima, fiel a Roma) não será mais tolerada. (...) Se eu penso que o Vaticano está vendendo a Igreja Católica na China? Sim, definitivamente, se continuar seguindo na mesma direção e com tudo o que vem fazendo nos últimos anos e meses.”

(Asia News)

No mês passado, o Vaticano pediu a dois bispos "subterrâneos"  – que operam sem a aprovação do governo chinês, numa situação semelhante a dos bispos dos tempos das perseguições romanas – para renunciar em favor dos fantoches nomeados pelo governo comunista – um dos quais excomungado da Comunhão da Igreja em 2011(!).

Um deles, Guo Xijin, disse no fim de semana que obedecia "a decisão de Roma" e que respeitaria qualquer acordo entre as autoridades de Pequim e do Vaticano. Guo e o segundo bispo, Zhuang Jianjian, estão sob vigilância policial e Guo vem sendo repetidamente detido, inclusive por 20 dias no ano passado.

A situação atual e a propaganda

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A questão das nomeações de bispos está no centro dos esforços para restabelecer as relações entre o Vaticano e a China, que foram separadas oficialmente após a fundação do Estado comunista em 1949.

Há entre 10 a 12 milhões de católicos na China, com cerca de metade adorando em igrejas subterrâneas e metade em igrejas geridas pelo governo. O governo chinês nomeou sete bispos, que não são reconhecidos por Roma. Até 40 bispos subterrâneos apoiados por Roma operam sem a aprovação do governo chinês.

As negociações para restaurar os laços entre os dois poderes começaram há mais de 18 meses, mas a questão dos bispos tem sido um obstáculo importante.

No ano passado, o presidente chinês, Xi Jinping, disse ao congresso do Partido Comunista que "as religiões na China devem ser orientadas pelos chineses", e que o governo deve "fornecer orientação ativa às religiões para que elas possam se adaptar à sociedade socialista".

Novos regulamentos entraram em vigor em 1 de fevereiro, especificando os tipos de organizações religiosas que podem existir, onde podem existir e as atividades que podem organizar.

Houve uma repressão às igrejas protestantes em expansão, sendo que muitas foram forçadas a remover as cruzes de seus templos e outras foram dissolvidas.

De acordo com a carta aberta dos líderes católicos citados no início desta, "o partido comunista na China, sob a liderança de Xi Jinping, destruiu repetidamente cruzes e igrejas, e a 'Associação Patriótica Católica da China', controlada pelo Estado, mantém um pesado controle sobre os católicos".

"A perseguição religiosa nunca parou. Xi também deixou claro que o partido fortalecerá seu controle sobre as religiões", prossegue a carta, e continua: "Não vemos nenhuma possibilidade de que o próximo acordo possa levar o governo chinês a cessar com a perseguição à Igreja e a parar suas violações da liberdade religiosa".

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Com informações do 'The Guardian' e 'National Catholic Register'

Fonte:http://www.ofielcatolico.com.br/2008/02/acordo-entre-china-comunista-e-vaticano.html

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Pacto com a China sobre os bispos: ''O papa já decidiu''

19 Fevereiro 2018

Abençoar Pequim. E ser aceita como religião estrangeira não mais hostil à China comunista: a decisão do Papa Francisco.

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Papa Francisco com grupo de chineses na Audiência Geral - AP

A reportagem é de Massimo Franco e Paolo Salom, publicada por Corriere della Sera, 18-02-2018. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

“No que nos diz respeito, a decisão está tomada: a partir do fim de março, todos os dias são bons para assinar o acordo com as autoridades chinesas sobre o procedimento de nomeação dos bispos católicos.”

O expoente vaticano que confirma o passo dado nas relações religiosas entre a Santa Sé e a China admite a existência de uma cautela residual: quem, no lado de Pequim, será responsável pela assinatura do acordo; onde isso acontecerá; e se poderão haver surpresas de última hora, dados os tempos chineses.

Mas o nervosismo palpável na Embaixada de Taiwan junto ao Vaticano, ilha asiática e resíduo anticomunista de um “Império do Meio” dividido, atesta como o porto final das negociações já está a um passo de distância. E talvez chame ainda mais a atenção, misturada com desconfiança, com a qual os Estados Unidos, depois de ter acompanhado durante um ano os contatos entre a Roma papal e os palácios do poder de Pequim, estão se preparando para decifrar o ato final.

De acordo com o jornal Corriere, há algumas semanas, os analistas estadunidenses comunicaram o Departamento de Estado em Washington de que o acordo estaria prestes a se concluir. E, diante das insistentes demandas sobre os motivos que levam o Vaticano a um passo tão histórico quanto audacioso, duas respostas foram dadas.

A primeira é que a prioridade vaticana é a defesa da minoria católica naquele imenso país. O segundo é que, ao forçar os tempos do entendimento, a Santa Sé quer evitar a possibilidade de um cisma entre a chamada Igreja patriótica apoiada pelo governo e a “comunidade subterrânea” dos católicos obedientes somente a Roma, perseguida por muito tempo pelo Partido Comunista.

Mas Washington se interessa por entender especialmente as consequências dessa aproximação e os efeitos que terá sobre o problema da defesa dos direitos humanos e da liberdade religiosa.

E, acima de tudo, tenta-se entender se, a partir das relações religiosas, seguirão em cascata as diplomáticas, hoje inexistentes, entre Vaticano e Pequim. Uma China dotada de legitimação da Santa Sé poderia aumentar seu peso geopolítico em um panorama asiático em claro-escuro.

Por enquanto, a questão não teria sido abordada. “Mas é lógico que a próxima etapa será, mais cedo ou mais tarde, a distensão diplomática”, admite um dos altos prelados que acompanha de perto as negociações. “Mas não é possível prever com que tempos.”

Por isso, em Taiwan, mas também em Tóquio, sente-se uma forte preocupação. Fala-se de uma transferência da Embaixada de Taiwan junto à Santa Sé para a ordem dos catolicíssimos Cavaleiros de Malta, como possível passo em direção a Pequim; da criação de um “Instituto de Cultura” em Roma como substituto da sede diplomática; e do rebaixamento a “Delegação Apostólica” da nunciatura vaticana em Taipei, mas designando um bispo como gesto reparador.

“Taiwan está informada passo a passo por nós”, asseguram no Vaticano. Mas não está tranquila. Ela teria enviado uma delegação de cinco parlamentares para se encontrar com Francisco: ela foi recebida apenas pelo “ministro das Relações Exteriores”, Dom Paul Gallagher.

Fontes chinesas afirmam que essa missão, em Roma, teria sido uma tentativa de fazer com que a negociação descarrilhasse na última milha; com o apoio indireto dos estadunidenses por trás.

E, na mesma guerra de resistência, deve-se enquadrar a revelação do arcebispo emérito de Hong Kong, José Zen, de uma conversa confidencial com o papa: conversa na qual Zen teria acusado o pontífice de “vender os católicos chineses”. São confirmações de uma evolução que marcaria, mesmo assim, uma fissura; e que é vivida como um trauma por ambas as partes.

Os Estados Unidos sabem que no Vaticano existem “dois partidos” em contraste sobre a questão chinesa. E Washington insiste em não ser hostil ao acordo sobre a nomeação dos bispos. Tenta apenas interpretar suas repercussões. Até porque será difícil parar uma dinâmica que o secretário de Estado, o cardeal Pietro Parolin, buscou com paciência e prudência, apoiado por Bergoglio.

O fato de Francisco ser considerado um papa “pós-ocidental” jogou a favor da construção de uma relação de confiança: ele não foi percebido por Pequim como “um agente das potências estrangeiras”, em síntese, dos Estados Unidos. Além disso, o Vaticano assegura que não quer mudar a China e seu regime, mas apenas permitir que os fiéis vivam em liberdade. Nenhuma ingerência, portanto, que Pequim teme mais do que qualquer outro vírus.

“Trata-se de virar a página”, explicam na Roma papal. “Não queremos mais uma Igreja que, por definição, deve estar na oposição do governo chinês. É preciso dialogar de forma pragmática, superando a ideologia da Guerra Fria e do confronto.”

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Ninguém está pronto para apostar que todos, na chamada Igreja clandestina, aceitarão isso, embora os sinais sejam positivos. Os dois bispos “não oficiais” que ainda se opunham ao acordo foram persuadidos a aceitar por obediência ao papa se retirarem para dar lugar aos bispos designados pela Igreja Patriótica Chinesa, isto é, pelo governo.

“Sabemos que se trata de um mau acordo, porque os chineses têm a faca e o queijo nas mãos, e todas as vezes em que nós, católicos, tentamos pegá-los, nós sangramos. Mas Pequim aceita que a Igreja de Roma entre nas questões religiosas: o que nunca foi admitido antes. E, além disso, hoje a porta está entreaberta. Amanhã poderia se fechar e qualquer diálogo se tornaria mais difícil. É melhor um mau acordo do que nenhum acordo”, é o mantra da diplomacia vaticana.

A Secretaria de Estado vaticana teme que, depois do último congresso do Partido Comunista Chinês, a situação piore, e não melhore. Em março, provavelmente após a conclusão da sessão anual da Assembleia Nacional em Pequim, uma delegação para aperfeiçoar o acordo sobre a nomeação dos bispos irá a Roma. Conta-se com a presença do vice-ministro das Relações Exteriores, responsável pela seção Europa, como contrapartida do Mons. Antoine Camilleri, encarregado da mediar com Gallagher e com um veterano de relações sino-vaticanas como Dom Claudio Maria Celli.

Superado esse obstáculo, o resto pode ser mais fácil. Xi Jinping estaria pronto para endossar o acordo.

“Mas vocês sabem que o sigilo e a falta de transparência com as quais as negociações foram conduzidas farão com que vocês percam a batalha de informação na mídia ocidental?”, perguntou um representante do Departamento de Estado dos Estados Unidos aos mediadores da Santa Sé. “Estamos cientes de correr esse risco”, foi a resposta.

A fim de reparar a relação com o maior país asiático após a ruptura de 1951, que se seguiu ao reconhecimento de Taiwan, o papa argentino parece pronto para abrir este fronte: sabendo muito bem que não será apenas externo, mas também interno à própria Igreja Católica. E se tornará outra ocasião de crítica aos seus inúmeros adversários. “Se perdermos tempo, as resistências poderiam ressurgir no Partido Comunista, e o acordo, voltar ao alto mar.”

Fonte:http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/576172-pacto-com-a-china-sobre-os-bispos-o-papa-ja-decidiu




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